terça-feira, 18 de dezembro de 2007

Entrevista: Antonio Petrin

Ele possuí um curriculo invejável de quase vinte anos de jornalismo, três Copas do Mundo, duas Olimpíadas e uma passagem de dois anos pelos Estados Unidos. Sem dúvida um profissional a ser lido atentamente.

Depois de enviar as perguntas, via e-mail, abria o sempre na ânsia de ver as respostas e nada – cobrindo o Corinthians, em Jarinu, ele andava atarefado. Uma exata semana depois, chegou as tão esperadas respostas. “Desculpe pelo atraso. Tenho precisado de dias com 30 horas. Vá se acostumando, meu caro. Como sempre diz Juarez Soares [comentarista esportivo], ‘o bom jornalista é aquele que morre pobre trabalhando em dois empregos.’” Ressaltando que “FUTBOLA” é o nome da revista que criei na faculdade em 2002, juntamente com Felipe “FM”.

Futbola – por que escolheu o ofício do jornalismo?
Antonio Petrin – Entrei no jornalismo por acaso. Em 83 trabalhava como produtor gráfico numa agência de publicidade. No ano seguinte, entrei no curso de comunicação social da FIAM. No primeiro ano conheci Acaz Fellegger (ex-assessor de imprensa do Palmeiras e atual assessor do técnico Luis Felipe Scolari). Ele me convidou a conhecer a Rádio Universitária de Guarulhos. Fiquei apaixonado com o que vi. Na semana seguinte já estava fazendo boletins sobre a Formula 1e não parei mais. Era uma rádio escola e pude aprender muito. Quando cheguei no terceiro ano da faculdade optei por jornalismo e abandonei a publicidade.

Futbola – Como foi a primeira grande matéria?
Petrin – Durante meus 18 anos de carreira, tive o privilégio de entrevistar pessoas importantes e conhecer vários lugares do mundo. Cobri eventos fantásticos, como a três Copas (Itália-90, EUA-94 e França-98), duas Olimpíadas (Barcelona-92 e Atlanta-96) e as 500 milhas de Indianápolis. Mas tudo começou com um jogo da terceira divisão do campeonato paulista. Vila das Palmeiras (Guarulhos) contra o Mauaense. Fui escalado para puxar os fios do repórter Carlos Lima (hoje na Sportv). No intervalo saiu a maior confusão. A torcida invadiu o campo e a polícia teve que dar tiro para cima. Naquele dia quase desisti, mas percebi que o jornalista tem que estar preparado para tudo mesmo que está no esporte. Em relação às matérias mais importantes, é difícil citar apenas uma. Lembro de momentos inesquecíveis: a medalha de ouro do vôlei brasileiro, em Barcelona-92, foi fantástica. O Brasil tinha ido muito mal nos jogos e quando vi o hino tocar e a bandeira subir, confesso que chorei de emoção. Foi emocionante também comemorar o Tetra ao vivo, em Los Angeles, quando o italiano Baggio perdeu o pênalti. Alguns momentos tristes também: fui o primeiro a entrevistar Zagallo depois da derrota para a Franca, em 98, ainda dentro de campo. A entrevista foi para o mundo inteiro. Quando o Senna morreu tive que dar a notícia ao vivo no SBT durante o programa Silvio Santos. Minha voz quase não saiu. O momento mais curioso foi a entrevista com a atriz italiana Cicciolina, em Veneza, durante a Copa da Itália. Fui o primeiro repórter brasileiro a entrevistar a deputada que conquistou o eleitorado mostrando os peitos. Para mim ela não mostrou (risos). Foi uma grande decepção.

Futbola – Qual o seu furo de reportagem?
Petrin – Confesso que na minha carreira não fui um “repórter de furo”. Não me preocupo com isso. Pelo contrario. Já vi muitas vezes jornalistas preocupados em dar uma informação precipitada e o furo acaba virando um furo na água. O importante na minha profissão é estar sempre muito bem informado e ter suas fontes (jogadores ou dirigentes) que possam te passar alguma informação que pode virar uma grande matéria.

Futbola – Qual um ídolo que entrevistou?
Petrin – Nesses 18 anos de carreira já cobri vários times inesquecíveis. O que ficou mais na memória foi o fantástico São Paulo de Telê Santana, bicampeão mundial 92-93. O mestre Telê era fantástico. Sujeito difícil de entrevistar, mas acabou virando meu companheiro de SBT, na Copa de 94. Telê merece, como já teve, um livro sobre sua vida.

Futbola – Qual a diferença entre o jornalismo esportivo brasileiro e o americano, onde trabalhou pela PSN?
Petrin – Vivi quase dois anos nos EUA e notei que a grande diferença entre o jornalismo brasileiro e o americano é a forma como às vezes são tratadas as notícias. Por exemplo, no jornalismo brasileiro a informação às vezes recebe a maquiagem da emoção. Um menino pobre que vira jogador famoso merece uma matéria com música de fundo, os pais chorando ao lembrar das dificuldades etc... Na época do Aqui Agora do SBT os repórteres eram artistas, choravam, brigavam, defendiam o consumidor. Lá nos EUA a informação é mais nua e crua. E o repórter não se preocupa em fazer tipo ou aparecer mais que a notícia.

Futbola – Rola muito notícia de bastidores que fica em “off”?
Petrin – É claro que existem notícias que não podem ser publicadas. Primeiro porque às vezes não podem ser comprovadas. Você pode correr o risco de ser processado. Ou não tem importância no contexto. Por exemplo: corre um boato que um técnico de um time de muita tradição é homossexual. Sabemos também que vários jogadores recebem garotas de programa nos hotéis durante as concentrações. Você pode até publicar, mas te garanto será a primeira e última vez, pode ser processado porque dificilmente terá como provar e com certeza vai ganhar fama de dedo duro, perdendo completamente a confiança dos jogadores, mesmo aqueles que não
aprontam.

Futbola – Se tivesse que destacar algo importante no jornalismo esportivo, mais especificamente no futebol, o que seria?
Petrin – Para ser um jornalista esportivo você precisa gostar e entender da matéria. Muitas vezes quem se forma escolhe o jornalismo esportivo para começar a carreira por ser uma área teoricamente mais fácil. E o que se vê é quase sempre um rostinho bonito na TV falando sobre o assunto e cometendo erros graves. No jornalismo esportivo você ganha um jogo de cintura que te faz se adaptar à qualquer outra área. Tanto que temos vários ex-repórteres esportivos fazendo sucesso em outros tipos de programas. Exemplos: Roberto Cabrini apresenta o São Paulo Urgente. Luis Datena apresenta o Cidade Alerta. Fausto Silva está há 17 anos fazendo sucesso na Globo. E poderia citar outros dez nomes. O futebol é realmente apaixonante por ser imprevisível. Para exemplificar o que eu estou dizendo, vou lembrar o que aconteceu comigo: uma época resolvi jogar na loteria esportiva. Aproveitando minha experiência, achava que poderia ter sucesso. Fiquei três dias estudando os jogos. Quem jogava em casa, quem estava machucado, suspenso, a necessidade de vitória de cada um, quem apitaria os jogos etc... Resultado, fiz 5 pontos. E o meu sobrinho de 7 anos, que foi respondendo sem pensar, fez 7 pontos. O futebol é o único esporte que as zebras acontecem com freqüência. No vôlei, automobilismo, basquete o pior pode até vencer, mas de vez em quando. Acompanhei o nascimento de jogadores que viraram craques como Rivaldo (ainda no Mogi Mirim), Ronaldinho (acho que só eu o entrevistei na Copa de 94, quando era o terceiro reserva) e Cafu (reprovado em 7 peneiras no São Paulo até levantar a Taça no Japão) e vários outros. Vi craques sucumbirem por não resistirem a fama repentina e pagarem com a própria vida (Dener). Para se ter sucesso, em qualquer profissão, inclusive na nossa, são necessárias três coisas: talento, trabalho e sorte. Já vi gente com muito talento, trabalhador mas que não teve a grande chance. Outros tiveram todas as chances, tinham talento mas não gostavam muito do batente. Outros trabalharam muito, tiveram sorte mas coitados não tinham talento. Espero que você tenha essa três coisas e não desanime nunca. Estou sempre à disposição.

RAIO X
Nome: Antonio Petrin
Nascimento: 19 de abril de 1965 (São Paulo)
Formação: em jornalismo - FIAM (84-87)
Currículo: Radio Universitária de Guarulhos (85), Rádio Super Tupi AM
(86), Rádio Imprensa FM (87), TV Record (88), TV Manchete (89-90), TV
Record (91), TV Manchete (92), SBT (93-99), TV Bandeirantes (2000),
PSN (2000-01) e TV Bandeirantes (2002)

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