segunda-feira, 13 de julho de 2009

Meu Dicionário Gaúcho de A a Z

Nove meses entre os gaúchos e finalmente se deu a gestação do texto comparando as diferenças entre os idiomas paulistês e gauchês, também temperado com termos típicos e freqüentes do mais “estrangeiro” dos estados do Brasil: o Rio Grande do Sul.

O dicionário está distribuído em mais de uma centena de verbetes de A a Z. E para o inferno as letras gringas “k”, “y” e “w”. Só se fabricasse para listá-las aqui.

O assunto rende, afinal de contas, debater regionalismos e sotaques é sempre um tema delicioso quando duas ou mais culturas interagem.

Além dos comparativos, muitas vezes, a definição da expressão funcionará como pano de fundo de muitas histórias relevantes e irrelevantes também. Portanto, não se importem se fugir do verbete em questão.

É gaúcho, mas bem poderia ser sulista, já que, devido ao seu poderio na região, influencia os vizinhos da região, Santa Catarina e, em menor intensidade, Paraná.

São frutos de pesquisas na net, com os gaúchos de casa onde moro, da loja da TAM no aeroporto Salgado Filho e da rua, até por ter uma quilometragem considerável para ir e vir do trabalho – de três e quatro horas por dia, 23 dias por mês, entre trem e ônibus –, acabo ouvindo muitos jovens se comunicando...

O guia tanto servirá para o paulista (ou sendo mais abrangente, região sudeste) no Sul como vice-versa, para evitar fiascos. Toca ficha, como manda o bom gaudério.

A

Acoar – Verbo, o mesmo que “latir”. O cachorro acoa aqui. Logo o Tóbi é o cão acoador da casa. É a minha palavra preferida para torrar o saco da Gabriela, minha noiva.

Alcançar – Outro verbo. Exemplo, “me alcança a calculadora?” Equivalente a “me passa isso”, “me dá” ou “empresta”. Adotei a expressão na loja. Esse é um dos termos em que vale o provérbio “em Roma faça como os romanos” .

Alaminuta – Popularíssimo PF, ou prato feito.

Apavorada – Empregada de uma forma até irônica. “Tal pessoa ficou ‘apavorada’”, num sentido de “chocada”. Similarmente em São Paulo traduziria como “passada”. A listei depois de cansar de ouvir minha noiva usá-la.

Arroio – Córrego.

Atílio – Resolveram dar um nome próprio ao “elástico” para prender dinheiro em banco.
Atucanado – Adjetivo para designar que o cidadão está “encanado”, “preocupado” com algo ou mesmo “ocupado”.

B

Bah – Interjeição para tudo. Mas bah! Um amigo japa em visita ao Rio Grande disse que um gaúcho falou 10 bahs de 15 palavras. Desconte o exagero, mas é extremamente massificado seu uso. É hilário quando a Camila da loja começa contar algum babado com um “bah, gurias...”. As gírias da gurizada criam variações como “bã”.

Barbada – Mesmo significado. Destaca-se pela grande quantidade de vezes em que é usado. “Vou te dar a barbada” ou “esse preço está barbada”. Raro passar um dia sem ouvir essa.

Barbaridade – O bah completo, interjeição cinco estrelas em tradição. Esse faço questão de usar com a Kelli, da loja, em ironia, sobre algum fato. “Mas que barbaridade!”

Bauru – Na Praça da Sé, é um misto quente (pão francês, queijo e presunto) com tomate, prensado. Já em Porto, é totalmente outro: cacetinho cervejinha (explicação na letra “c”), bife. Ou seja, o “americano”.

Bento Gonçalves – Grande líder da Revolução Farroupilha (1788-1847) que por um triz não fez da província do Rio Grande do Sul um país. Ver Casa das Sete Mulheres. Eu vi no youtube (http://www.youtube.com/watch?v=yurEgp6GtCY), capítulo (de dez minutos) por capítulo, para entender esse povo da qual já faço parte. Hoje é nome de cidade e se não houver rua BG em alguma cidade, definitivamente essa cidade não é no Rio Grande.

Bergamota – Nossa “mexerica”. Em outros lugares “tangerina”. Fruta engraçada e de cheiro meio desagradável. Lembro de uma amiga que levava essa fruta de nome exótica para o trabalho e a apelidei de mexerica. A “berga” tem sonoridade estranha, talvez pela rima com marmota, algo gordo e desajeitado.

Bobice – Igual a “bobeira”.

Bombacha – Calça larga dos gaúchos com detalhes (favos) nos lados. Traje tradicional do gaúcho. Não é tão frequente na capital, sendo mais usada no interior do estado. Na Argentina é a íntima e feminina calcinha. Não que esteja dizendo que o gaudério use calcinha – longe de mim –, apenas fazendo uma tradução literal...

Botar fora – Troque o “botar” por “jogar”.

Bração – Ai sim a diferença é 100%. Enquanto na Terra da Garoa o condutor “bração” é lamentável de volante, o daqui tem uma perfomance digna de piloto de fórmula 1.

Brigadiano – Os homens da lei do RS, “polícia”, que integram a brigada militar do estado.

Brim – “Calça jeans”.

Bruxo – Nas idas e vindas do trabalho, descobri por osmose que bruxo seja uma gíria gaúcha que corresponda ao “maluco” paulista.

C

Cacetinho – Nome duvidoso do “pão francês”. Por isso ao ir na padaria Pisagri de Novo Hamburgo, peço por pãezinhos e indico incisivamente para não pairar dúvidas.

Cacetinho cervejinha – Com farelos por cima, genérico do pão sovado, ou vice-versa, para não me acusarem de bairrista, rs.

Cadeira – Não, não é para sentar, seu (sua) folgado (a)! É sim para estudar, a definição corrente destas plagas remete à determinada disciplina que se estuda na universidade.

Café colonial – Café é um eufemismo. No cardápio, tábua de frios, salgados, doces, e para beber, além de café com leite e chocolate quente, suco de uva e vinhos. A refeição ganha status de almoço ao servirem frango a passarinho – uma verdadeira orgia gastronômica!

Cantar – É lugar comum no Brasil inteiro, o povo do sul canta ao se expressar como nenhum outro.

Carrinho de lomba – Carrinho de rolemã.

Capaz – Interjeição de aprovação ou desaprovação muito utilizada – a gauchada não fica três minutos sem falar, capaz que não. O sinônimo do resto do país é “magina” ou “até parece”.

Charque – O aumento por parte do Império dos impostos da “carne seca” detonou a guerra de quase dez anos entre farrapos e imperiais.

Chavear – Rolou um neologismo neste verbete, ao invés de fechar a porta com chave – óbvio –, chaveia-se.

Chimarrão – O chimarrão está para gaúcho assim como Romeu para Julieta. Par inseparável que faz parte da foto do Rio Grande, seja em casa ou no trabalho, de noite e de dia, acreditem, até no sol a pino com praia. Pretexto para encontros, enquanto que fora do RS se serve um cafezinho. Composto da cuia – digo, o recipiente –, a bomba metálica – o ferrinho para puxar o liquido quente –, e claro, o mate. O celebre escritor gaúcho, Luíz Fernando Veríssimo dimensiona bem a importância do chimas, fazendo analogia com outro ícone dos pampas: “Tirar chimarrão de gaúcho é o mesmo que xingar a mãe e Bento Gonçalves juntos.”

Chimia – Geléia.

China – É um apelido que pode ser um tanto pejorativo que vem das épocas da Guerra dos Farrapos, quando mulheres acompanhavam os soldados e, nesses tempos difíceis de revolução, os ajudavam a descarregar a tensão. Há quem use de uma forma mais carinhosa. Encontrei na Internet o seguinte depoimento: “É um tremendo erro pensar que china era prostituta, pois é só uma forma de denominar a mulher. Dizer que as chinas acompanhavam os farrapos é o mesmo que dizer que mulheres seguiam a tropa. China Véia ou Chinoca só quer dizer mulher idosa e são só expressões.”

Churrasco – Só exponho aos gaúchos da gema – como os primos Marlon & Gabi – que estufam o peito e propagandeiam que é o melhor do Brasil: “Olha, não sei se é melhor, para mim é diferente – para vocês é uma refeição de todo santo domingo, com mesa, arroz e tudo mais como reza a tradição. Diferente do churrasco nacional, onde se celebra um evento, pode ser um aniversário, uma despedida, uma reunião qualquer de trabalho, família ou amigos.”

Coisarada – Seria um “etc” ou “um monte de coisas”.

Coisa séria – Reação de indignação a algo, bem corriqueira no vocabulário gaúcho.

Colono – Vivem em colônias, no meio da serra ou no interiorzão perto da fronteira com Argentina e Uruguai. Como são do campo têm costumes simples. Muitos usam como um adjetivo de uma forma pejorativa, subentendendo que todo colono é rude.

Cordão – O meio fio da calçada, como atesta esse texto publicado no jornal gaúcho Zero Hora: “A calçada é estreita, e os carros ocupam quase toda a largura da mesma, sobrando apenas ao redor de 30 centímetros entre a traseira dos carros e o ‘cordão’ da calçada, um espaço insuficiente para passar.”

CTG – Centro de Tradição Gaúcha. Todos esses termos, com tradição no mesmo lugar. E põe lugar nisso, em todo o território e além, até nos Estados Unidos. Mais de 1400 catalogados! Para formar um CTG bastam quatro famílias que estejam dispostos a manter vivas as tradições gaúchas de churrasco, chimarrão, música, trajes típicos etc. Vê se tem similares paulistas, mineiros, cariocas ou baianos? Outra informação para entender bem do que se trata o “gauchismo”, um forte sentimento de nacionalismo é a bandeira do estado. Em nenhum outro estado do território brasileiro se expõe tanto a bandeira como a das cores verde, vermelha e amarela. Presente em empresas, anúncios, jogos de futebol etc.

Cuca – Antes de vir para cá só conhecia a do Sítio do Pica-pau Amarelo. Além, claro, de nossa cabeça pensante, de onde se cunha a expressão “cuca fresca”. No meio do futebol é o ex-jogador do Grêmio, entre outros times, e hoje técnico do Flamengo. Nada disso, é um “pão doce”, presença freqüente nos cafés-da-manhã dos pampas.

Cueca virada – Uma “rosca doce”. Misto de sonho e bolinho de chuva com esse nome jocoso. Também chamada de “calça virada”.

Cuidar – Notabiliza-se pela economia de uma palavra. Enquanto empregamos verbo + substantivo, “tomar cuidado” com algo. No Sul somente o verbo resolve, exemplo: “cuida para não fazer isso”.

Cusco – Cachorro.

D

De – É famoso em todo país o “leitê quentê dá dor de dente” dos paranaenses, com o “e” pronunciado da maneira como deve ser, não distorcido – com som de “i” – como boa parte dos brasileiros praticam. D“I” manhã, carne d“I” gado etc. Curioso é que a forma correta de se pronunciar soa bastante estranha aos ouvidos de quem se viciou a falar e ouvir equivocadamente.

De cara – Pode ser muito puto com deteminado assunto ou pessoa, ou ainda estupefato.
De vereda – Imediatamente, de momento, de uma vez.

Deu pra ti – Essa é trilha sonora da cidade de Porto Alegre, quiçá do estado. O verbo dar – ao contrário do que, maliciosamente, você (ou tu) pensa – é finalizou-se. Exemplo: na loja alguém vai passar um cartão de crédito na máquina do outro. Terminou, avisa com um “deu”. No clássico da dupla gaúcha Kleiton & Kledir, o trecho “deu pra ti, baixo astral” sentencia que “chega de baixo astral”. Dai completam o refrão com “vou pra Porto Alegre, bah, tri-legal...” Música mais gaúcha, impossível.

E

Encarangado – De frio!, brubrubru. Eu que o diga no primeiro inverno sul-riograndense. Aqui pinguim anda encarangado, com luvas, cachecol e solta fumacinhas pelo bico.

Estar de – Dia 16 de junho último eu “estava de aniversário”, não “fazia aniversário” como celebram meus conterrâneos.

Embuchar – Pode ter a conotação de alguma guria ficar grávida, e especificamente, outra versão, essa à mesa, quando fulano ou siclano resolve falar groselhas e abobrinhas, beltrano manda um “se embucha aí com seu feijão e cala a boca...”

Empenhado – Ficar na mão. Exatamente como eu e os irmãos Thiago e Gabriel ficamos no dia dois de julho, após o Timão ter conquistado o tri-campeonato da Copa do Brasil sobre o badalado Internacional, em pleno Beira-Rio lotado, o carro “sogro-movel” morreu na freeway (via de acesso ao aeroporto de Poa e que também liga o estado a Santa Catarina) às três da matina. Foram quase duas horas de frio, desespero e impotência até o guincho nos levar até a BR 116. Daí foi outro problema...

Estrovar – Mineiro também usa, vem de “estorvar” que significa algum empecilho, dificuldades. Porém, no popular de MG e RS o verbo se tornou estrovar.

F

Faceiro – Quem está faceiro está de bem com a vida, alegre. Um dos adjetivos prediletos desse povo.

Faixa – A avenida principal.

Faixa nobre – É o primo gaúcho da zona azul paulistana.

Fandango – Nos meus tempos de Sampa conhecia por salgadinho da Elma Chips. Em Poa aprendi que é um conjunto de danças ou baile local que compõe a rica tradição gaúcha. Quem nunca escutou o clássico do Gaúcho da Fronteira, “churrasco e bom chimarrão, fandango, trago e mulher. É disso que o velho gosta, é isso que o velho quer”?
Fatiota – Terno.

Feito – Outra palavrinha que se destaca pelo exaustivo uso. Tem várias denominações, vai de um “pronto”, “combinado” até um uma interjeição de alegria e júbilo, um “valeu”. Um exemplo: na hora do jogo da seleção, o zagueiro faz um gol de cabeça ou o artilheiro faz um gol estilo peidinho de veia (chute fraquinho)... tanto faz... saiu o gol. A torcida emana um “Feitooooo!!!” Quem criou “feito!” foi um narrador de futebol da RBS TV, Paulo Britto.
Funda – Estilingue.

Fiasco – Muito usual. E quem apronta muitas “mancadas” ou “gafes” recebe o troféu de fiasquento.

Finar – Se finar de rir é “morrer de rir”.

Folgar – O verbo por aqui é usado com a mesma conotação de “zuar”. Um exemplo bem real: às três da manhã tocou o celular do colorado Marlon. O Corinthians havia acabado de ganhar o título sobre seu time. Batata, ele imaginou: “A essa hora o Zé quer me folgar...” Na verdade, como exposto verbetes acima, estava empenhado.

Fora da casinha – Lelé da cuca, pinéo, doido de pedra etc. Nada parecido com o que vos escreve.

Fragar – Se dar conta de algo. Consta em um site que pesquisei que é derivado de “flagra”. De fragar deriva-se o sifragol, um dispositivo que só os dotados de bom-senso possuem, assim como os paulistas conhecem o “simancol”.

Furão – Tanto pode ser o sentido que se usa em esse-pê: já combinado, o cidadão não vai e fura. Como também ir a um evento sem ter o prévio convite. O que no centro do país se dá o nome de “bicão”, ainda que o sentido no RS seja o mesmo também.

G

Gá-bi – Derivado de Gabriela. Coisa óbvia. Nada óbvio é a forma de acentuar Gá-bi, isso, com acento na primeira sílaba. A Gábi gaúcha é diferente da paulista, Ga-bí, essa oxítona. Diferenças...

Gaita – O “Rei do Baião” Luiz Gonzaga tocaria gaita se fosse gaúcho. Como é pernambucano tocou – muito bem, diga-se de passagem – “sanfona” até morrer. No resto do país gaita é um instrumento que se toca com a boca chamado no Sul, portanto, de gaita de boca.

Gaudério – Ao pé da letra é “pessoa que não tem ocupação séria e vive à custa dos outros, andando de casa em casa”, mas tem um significado mais amplo no RS, aliás, virou sinônimo desse povo.

Galinha – O sabor da carne é o mesmo, só que num restaurante da Redenção vou pedir galinha e na zê-ele paulistana pedirei um “frango”.

Ganhar – Na interpretação que tinha notícia, esse verbo tinha uma conotação positiva, ganhar na loteria, ganhar um jogo etc. No Sul não, ou será que ganhar um treco, multa, enfarte ou atestado médico é bacana? Em tempo, falamos “ter um treco”, “ter um enfarte” e “levar multa”.

Goleira – As “traves do futebol”. Muitos, os mais antigos como meu sogro, falam “golo”, assim como em Portugal, para comemorar o momento máximo do futebol.

Gringo – Popular na região de Caxias do Sul, cheia de imigrantes italianos. Um gringo famoso é o técnico pentacampeão Luiz Felipe Scollari.

Guampa – São os chifres do boi, daí até ser gentil com um amigo chamando-no de guampudo, “chifrudo”, é dois palitos.

Guria – Graças a minha amada guria estou no Sul e, portanto, esse texto existe. Dispensa definição. E eu sou o gurizinho dela, que meigo e I love her, minha “mina”, e eu sou o “mano” dela, tá ligado!

H

Hora do pique – Hora do rush, em que todos vão para o trabalho ou voltam. Que em outras partes é “horário de pico”.

I

Incomodar – Sem mudanças de definição, o que percebo é a freqüência e até neologismos, ou “sul-logismos”. Ontem mesmo um passageiro chiou na loja. “Não quero ‘incomodação’ com esse bilhete.”
Ir aos pés – Forma polida de dizer ir ao banheiro fazer o número 2. Muito usado nos médicos, afinal não fica bem para o doutor perguntar se você tem cagado ultimamente.

J

Jogar – “Apostar”. Jogo contigo que não sabia dessa, paulista...

L

Lancheria – Lanchonete.

Lomba – Aclive ou declive dependendo do ponto de vista. Para facilitar, ladeira, subida.

M

Magrão – Outra gíria jovem, que, aliás, significa “malandro” de uma forma amiga. Tinha um motorista que me chamava de assim, desconfiei ser em virtude da minha forma “chassi de grilo”, não era...

Marchar – No Rio Grande se te pedirem para marchar, não faça como um soldado, ponha a mão no bolso e pague!

Massa – Não que o “macarrão”, prato preferido nas mesas paulistas de todo santo domingo, não seja massa, mas é que no Sul não se fala macarrão ou macarronada, somente massa.

Mijada – É só fazer coisa errada no trabalho e levar aquela “comida de rabo”, mijada aqui no Sul.

Mumu – Doce de leite com açúcar, serve de recheio para bolo, churros etc.

N

Nóia – Apelido da cidade e do time de Novo Hamburgo. Nada que ver com a gíria derivada de paranóia, para drogados. A alcunha Nóia vem da tradução do nome em alemão, aliás essa cidade que junto com São Leopoldo, Campo e outras menores compõe o Vale do Sino, de fortíssima presença de imigrantes germânicos.

Negrinho – Comi vários no meu aniversário. Opa, não é isso que pensam!? São ingênuos e doces brigadeiros.

O

Olhar – Usam esse verbo para “assistir” ou “ver” tevê ou cinema, tipo “olhou o jogo, filme etc?”

P

Pampa – Terra, de preferência uma planície vasta para se criar gado. Um dos apelidos do estado, quem nunca ouviu chamarem o Grêmio por “Tricolor dos Pampas”?

Pampa-sáfari – Simba-sáfari.

Parada – Ponto de ônibus.

Parcão – E paradão, postão. Tudo “ão” para parque, terminal de ônibus e posto de saúde.

Pardal – O dedo-duro que em SP se convencionou chamar de “radar” para os apressadinhos no veículo de plantão. Caneta eletrônica e com foto. Depois é só pagar as multas, sem contar os pontos na carteira.

Pátio – A diferença aqui começa na definição, em Sampa ao redor da casa temos um “quintal” não pátio, que, aliás, para mim é salão principal do primário e ginásio. Outra diferença, essa não de significado, notada pela Gabi, é que em São Paulo inexistem os pátios enormes, com gramados, como em Novo Hamburgo, por exemplo.

Pelego – Outro dia fui ao barbeiro e ele perguntou se eu queria aparar o pelego. Deduzi que se referia ao “cabelo”. E era. Pelego é o pêlo da ovelha, daí a expressão. Essa palavra, na gíria sindical, é de alguém muito do puxa-saco.

Piá – Guri menor. Também peru.

Pinica – Além do sentido que consta no Pai Aurélio, “irritar a pele (se diz de roupas ou de grama, por exemplo)”, significa aquele jogo de infância, “bolinha de gude”.

Pila – Enquanto outras partes do país se refere à moeda Real, como 100 “paus”, “cruzeiros”, “mangos”, “contos”, nos pampas é só “pila”, moeda local caso fosse proclamado independente. A razão segundo “História de Rio Grande do Sul para jovens” de Roberto Fonseca, é que o político Raul Pila teve os direitos políticos cassados por Getúlio Vargas e sua trupe no inicio do século passado, como todo bom gaúcho, foi se exilar no Uruguai. Amigos de Pila arrecadaram bônus, denominados “pila”, para sustentá-lo. E pila ficou até hoje. Outro detalhe observado, assim como na Argentina, entre a moeda e os centavos fala-se “com”,explico: R$10,20, se diz “dez ‘com’ vinte”.

Pilchado – Roupas tradicionais do gaúcho. Para o homem, bombacha, lenço, espora, guaiaca (espécie de cinto), facão e de cavalo. A mulher vai de prenda, justamente o verbete vizinho de baixo.

Prenda – A mulher gaúcha. Exemplo: Gabi é minha prenda. Na semana farroupilha há a tradição das gurias se vestirem de prenda, vestido bordado e rodado, ou saia e blusa, variando de acordo com a idade e estação climática. Na minha terra prenda são os mantimentos que são doados para alguma instituição. Sobre a atual fase do Internacional – de ter enfiado 8 gols nos pobres caxienses em finais de campeonato gaúcho, Juventude e Caxias, em 2008 e 09 –, outra Gabi, essa da loja, desdenhou: “São prendas. Só gostam de Gauchão...”

Puxar – Se usa para “pegar” alimentos da panela.

Q

Quebra-mola –
Lombada.

Querência – Lugar onde alguém nasceu, se criou ou se acostumou a viver, e ao qual procura voltar quando dele afastado. Exatamente o que sinto em relação à Paulicéia Desvairada.

Querido – Significado óbvio, outro que está aqui pela insistência com que se usa esse adjetivo no cotidiano, tipo “tal pessoa é bem querida”. Outro dia reparei na Silvana, supervisora da loja, elogiando um passageiro: “Como é querido o seu Renato [Marsiglia].” Esse mesmo, o ex-juiz e atual comentarista da Rede Globo, que faz questão de cumprimentar atendente por atendente na loja.

R

Rabicó –
Presilha para prender cabelo, carinhosamente chamada de “piranha” em SP.

Rancho – Devo salientar que é bem dolorido, refiro-me a compra do mês mensal.

Recém – Idêntica definição, porém, em Diadema (Grande SP) diria “ele ‘acabou’ de chegar.” Ao passo que em Novo Hamburgo, “ele ‘recém’ chegou.”

Render – Tipo você está fazendo uma função e tem que abandona-la, daí você pede para alguém te render, ou “cobrir”, “substituir”.

ResBalar – Essa palavra está marcada porque despertou uma guerra civil no quarto dos Reis Costa, explico: divagava sobre o chá de macela, (a Gabi conhecia por “marcela”), uma outra palavra que não lembro e o pomo da discórdia, resvalar, resvalou na conversa. Já havia ouvido a cunhadinha Luana dizer “resbalar”, então disse à Gabi tranquilamente, meio joselito – sem noção – “por que vocês insistem em falar errado algumas palavras...” pronto, ela se armou e soltou petardos, “ah, só vocês que falam certo!” Depois que a poeira baixou e expus que não quis ofender, só entender. A explicação é até óbvia, vem da influência platina do espanhol (todo “v” é pronunciado com som de “b”) de argentinos e uruguaios.

Rótula – No joelho? Também, com a ressalva que no RS é a “rotatória” das ruas, avenidas e estradas.

S

Sair campeão – Em Buenos Aires cantei em La Bombonera “Boca va salir campeón”. Sem nunca imaginar que em Poa também conjugam esse verbo. Outra forma encontrada é “ficar campeão”. Mais uma herança linguistica dos parentes de Cristovam Colombo. Contraste com outros estados do território nacional, onde vale o shakesperiano “ser (ou não ser) campeão”.

Salsichão – Lingüiça.

Sapata – Além de ser a forma popular de uma mulher que sente atração por outra, é aquela brincadeira de meninas, “amarelinha”, que pulam em quadrados riscados com giz no chão. No Sul se diz tanto amarelinha quanto sapata.

Sapato – A diferença neste ponto se dá na tradição em casamentos – e isso muito me interessa. Nos casamentos paulistas se troca dinheiro dos convidados por um pedaço da gravata do noivo. Em cerimônias gaudérias enche-se o sapato do noivo. Em 5 de setembro vocês podem usar as duas culturas.

Sentar as patas – Ser grosso com alguém.

Serra Gaúcha – Vale o clichê: vir até o Rio Grande e não visitar Gramado e Canela é o mesmo que esquecer de ver o Papa em Roma. O turista encontrará ecoturismo, chocolates, compras, restaurantes, com tudo que a gastronomia serrana tem de melhor, e adicionados de friozinho romântico e, sobretudo, glamour.

Sinaleira – Assim como no Rio de Janeiro, farol também é sinaleira. Essa é uma palavra que tenho obrigação de dizer. Muitas vezes, tarde da noite, peço para o motorista do ônibus parar mais adiante. Para isso, digo “pode parar antes naquela ‘sinaleira’?” Porque até explicar que farol é sinaleira o busão passaria do ponto... ops, da parada.

T

Tampar – Até onde eu sabia só se tampava panela ou algum recipiente onde coubesse uma tampa. Como diria Sócrates “tudo sei que nada sei”, pois na terra de Getúlio Vargas o verbo nada mais é que cobrir alguém com lençol. Eu vivo destampando minha noiva.

Tchê – Símbolo forte do gauchismo, tchê. Assim como “meu” na maior metrópole brasileira.

Te – O pronome oblíquo “te” é vastamente pronunciado em terras gaudérias. Exemplo: “Te acalmas!”, “Não te preocupas” e até nos xingamentos da patroa: “Vai te cagar!”, Ai não, vai ser uma sujeira danada!

Tema – A Luana enrola um monte para fazer o dela, digo “lição de casa” escolar.

Ti – Substitui o “você”, por exemplo. “Vou preparar uma carne para TI comer.” Ou simplesmente “isso é para TI”. Tem um humorista que imitando o técnico Tite, do Inter, encena: “Te digo que isso é para ti, para tu e para o tatu.”

Tocar – Atirar algo em alguém. No futebol se algum time “tocou três”, quer dizer que “meteu” três gols no adversário.

Tocar ficha – Siga adiante, faça o que tem que ser feito. Segue o bonde.

Tocar flauta – Bem específico nas discussões entre torcedores de futebol, para tirar um sarro do perdedor. No momento minha flauta está apontada para os colorados.

Torrada – Misto quente.

Torta – O gosto da torta paulista é salgada. Já aqui, é a torta de aniversário, ou doce, nosso “bolo”.

Trancar – A BR 116 está constantemente trancada, com um grande fluxo de veiculos indo da serra e regiões metropolitanas para Porto Alegre e vice-versa. Inclusive lê-se em placas de trânsito: “Nunca tranque o cruzamento.” Além da ideia de engarrafamento e trânsito, trancar substituí “travar” o computador.

Trensurb – Trem, já que metrô só se for por debaixo da terra, de Poa e grande Poa. Em junho, duas semanas de greve, um absurdo! População na mão, recorrem a insuficientes ônibus hiper-lotados. Até o momento vai do centro, Estação Mercado até São Leopoldo, totalizando 17 estações. Mas estima-se que no máximo até fim de 2010 chegue em Novo Hamburgo, onde moro. E só porque o RS é sede da Copa do Mundo no Brasil, em 2014, e NH pleiteia ser sub-sede.

Tri – Mais um campeão de audiência quando se elogia ou quer dar intensidade a um adjetivo. Tri-legal, tri-massa, bem-tri... tri, tri e tri. Perpetuou-se devido a dois tris no futebol da década de 70: tri-mundial da Seleção Brasileira, em 1970, e tri-brasileiro dos colorados (75-76-79). Impossível perder o gancho de constatar que fomos tri da Copa do Brasil justo em Porto Alegre. Tri-legal!

Trovar – Jogar conversa fora. Serve também como “xaveco”, “tás trovando a guria?”

Tu – Você!, não você, leitor, mas o pronome pessoal do caso reto. Tu versus Você, que no Beira-Rio, mais que um Internacional x Corinthians, foi um Rio Grande Sul x São Paulo. 0 x 2 no placar, por cima da divisão entre torcidas, o corintiano Gabriel provocou o colorado: “VOCÊ quer que eu compre um faixa de campeão para vocês?” A resposta foi regional, não esportiva: “Você é o caralho, é TU....”

U

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V

Vinte de Setembro – Data histórica que estourou a Revolução dos Farrapos no ano de 1835. Anualmente nessa data se dá os festejos da “Semana Farroupilha”.

Vileiros – Favelados. Pessoas simples vindo das vilas. Ser chamado de “vileiro” é pejorativo. A Gabi mesmo vive me chamando deste jeito só porque torço pelo Corinthians. Ela não sabe o que é ser feliz... risos. Vai Corinthians!

X

Xarope –
Idêntica a maneira de criticar determinada pessoa por xarope, porém, no Sul situações são xaropes igualmente, num sentido de “complicado” e “ruim”. Além de ser comum o neologismo do verbo xarope, “o juis ‘xaropeou’ o jogo.”

Xerox – Aqui você bate um xerox ao invés de “se tirar” uma cópia.

Z

Zero Oitocentos –
Diz o Marlon – e só o Marlon – que se você vai a um evento no 0800, na “faixa” em SP, ou grátis. Está aqui para não deixar a letra “z” zerada.