segunda-feira, 24 de dezembro de 2007

Boas festas 2007

Luz, muita luz, banho de luz
Em praças de São Paulo, luz
Nas casas, nas árvores, luzes

Meu Deus, por quê tanta LUZ?
Nasceu Menino Jesus, é NATAL

Luz pra que se ilumine a alma
E se enxergue o homem humano
Que se aflore a espiritualidade
Pedindo paz. Perto de Deus

Trazendo pra vida terrena
Próximo à FAMILIA

Desejo isso a quem me lê
Estejam perto de Deus
Da Família
Sorte de quem a tem
Com isso, se atinge a Paz

O resto
Saúde
Sucesso: emocional, profissional e financeiro
É conseqüência

Feliz Natal
E 2008!

sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

Cataratas de Foz do Iguaçu

2003. Lado das Cataratas argentinas, em Puerto Iguazu, cidade de 28 mil habitantes e há 10 quilômetros do centro de IGU: imperdível! Foi cobrado 20 de transporte + 18 pela entrada no parque + 30 do passeio de barco. O transporte foi de ônibus, bem desconfortável por sinal. Não liguei, o motorista era uma piada. O argentino Juan Pablo, ao saber que só eu era brasileiro, me pegou pra Cristo. “Brasileño peligroso”, brincou. E falava mais que a boca: “Meu nome: pras chicas bonitas Tom Cruise e pros chicos feios, Drácula...” Além de tudo, era torcedor fanático do Boca Juniors, o atual campeão mundial. Carregava no ônibus uma bandeira azul e amarela do time e, freneticamente, desfraldava a toda cidade de Puerto Iguazu, onde nasceu. Imagina se esse chato de galocha não zoou todo torcedor do River Plate, grande rival do Boca, que perdera a final da Sulamericana pra um time inexpressivo do Peru, Cienciano, e com um jogador a mais. O marco da cidade é Três Fronteiras. Imagine um rio em forma de “T”, em que à direita está a Argentina (onde eu estava); à esquerda, minha pátria verde e amarela, do outro lado do Rio Iguaçu (representado pelo pé do “T”); e além do Rio Paraná (a trave superior do “T”), o Paraguai. Descrição feita com a colaboração do imã de geladeira comprado lá. Fui claro? Senão desenho, mostrando o imã.

Chegado ao Parque Nacional Puerto Iguazu, a maior reserva de floresta pluvial subtropical do mundo, que é dotado de invejável infra-estrutura. O transporte dentro do parque é feito através de trens, que conduzem a várias trilhas através de pontes sobre o rio Iguazu. Ainda bem que escolhi um dia de céu e sol intensos pra contemplá-las. Muito verde, passeando o divertimento era fotografar as borboletas. O Stefano (suíço) era tarado por elas. O objetivo era o mirante da “Garganta do Diabo”, a parte principal das Cataratas. De longe, já captamos o ensurdecedor barulho, a vista é de um monstro de água e fumaça de água – um mundo de águas à direita, esquerda e no horizonte! Junto às águas, pássaros produziam um balé soberbo. Os ventos traziam jatos de água, junto vinha o alivio que eles proporcionam. 275 quedas que oscilam entre 40 e 90 metros. O volume de água é tão grande que, ao cair, forma um vapor constante envolvendo a vegetação. Maravilhoso foi o efeito arco-íris. Ao vivo vi e na tela da minha máquina digital eu o transferi, falta imprimir a poesia visual de águas, verde, outras cores, brilho e emoção. Descendo por passarelas, várias perspectivas do já amplamente citado espetáculo. Munido de escada e guarda-chuva, um funcionário do parque tirava as fotos. Pois não é que eu tinha batido duas, e me sumiu a paisagem no visor digital da recém comprada máquina Sony... “Mas será que essa merdinha é tão sensível assim? Pronto, comprei ontem e já a estraguei, ferrou...”, me resignei. 15 minutos calado, quando, já longe das quedas, ativei o visor que desativara sem querer. O humor então assim voltou e pude, foto a foto, fazer um wonderfull waterfall flashback. Faltava o passeio de barco. 15 minutos emocionantes. O barco balança muito e é quase que engolido pelas gigantes e furiosas Cataratas. Sensação indescritível! Terminamos encharcados & maravilhados! A ducha natural serviu pra lavar, literalmente, a alma.

O tempo começou virar ao fim da tarde, ou foi só a gente (eu, o alemão Christopher, o suíço Stefano e a espanhola Tâmara), avistar o ônibus, a cerca de 50 metros, fechou o tempo e mais água. Dessa vez não era cascata, era temporal! Corremos e, os últimos, chegaram molhados e foram zoados pelos secos & sentados. Ai foi voltar pro Brasil. O Juan Pablo ainda aprontou uma comigo: recolheu os passaportes e meu RG pra passar na fronteira, ao devolver, colocou os documentos dos estrangeiros e nada do meu brasileiríssimo RG e o ônibus já tinha partido. “Cadê, argentino?” Tava escondido. Cheio de graça...

Unanimidade: o lado argentino é mais bonito, também maior: correspondente a ¾ das Cataratas. Doído pro orgulho brasileiro afirmar isso. No entanto, a disposição dos saltos – a maior parte deles voltados para o Brasil – permite ver todos a um só tempo apenas do lado brasileiro. Ou seja, é de lá que se vê o todo e se completa o pacote. Paga-se 11,40 pela entrada no parque. A exemplo do lado vizinho, vários mirantes. O ápice é uma passarela, onde o banho refrescante na alma está incluso. O arco-íris também é brasileiro. Retornei e vi que não havia mais trilha, escapando um sonoro e monossilábico “só???” Mas esse “só” não foi de decepção, o que vira compensou com sobras – estava plenamente satisfeito! Mesmo assim o barulho da quedas e a beleza sublime da vista me convidou para um derradeiro e feliz bizz. Também cá com meus pensamentos conclui que rodara o Brasil e deixei Foz do Iguaçu pra ser o (talvez) 50º destino. Tarde, mas o momento foi mágico e entra num canto restrito de paisagens de Deus. Privilégio ver.

Em matéria de Cataratas lembra-se das também imponentes Niágara Falls (na fronteira dos Estados Unidos com o Canadá). A ex-primeira dama americana, Eleonor Roosevelt, ao ver Iguaçu, sentenciou: “Pobre Niágara.” Em épocas de cheia o volume das Cataratas sul-americanas são sete vezes maiores que a norte-americana, resultado do tamanho do rio Niágara com um trajeto de apenas 40 quilometro contra 750 do rio Iguaçu. Vendo as fotos notei uma peculiaridade entre ambas: Niágara é no meio da cidade quase; ao passo que Iguaçu é situado num parque dentro de uma imensa floresta da mata Atlântica.

quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

Chi-chi-chi-lê-lê-lê

2004. Chi-chi-chi-lê-lê-lê, assim os torcedores saúdam a seleção chilena. Duas semanas atrás, num vôo Foz do Iguaçu/Curitiba, um grupo de adolescentes puxou o coro por farra. Esse é o título sobre esse país que, uma vez respira os ares da democracia, cresce a olhos vistos e, turisticamente é, ao lado de Buenos Aires, um destino muito atraente pra muitos brasileiros que se assustam com euros e dólares. Desembarcando em Santiago, algo inédito pra mim: CLAP CLAP CLAP. Palmas para o pouso (?!), as estendo para a capital e por extensão, para todo o Chile.

Tão logo entreguei o formulário da imigração, logo, dou de cara com um guichê de câmbio. Conselho da Luciana (amiga que visitou Santiago recentemente): “Se você tem 10.000 Pesos Chilenos, corte dois zeros e divida por dois. Ou, 5 Reais.” Na notinha da operação vi o câmbio: 1 Real corresponde a 185 Pesos, o que já inseri numa fórmula de excell no palm top.

Dinheiro trocado no bolso. Bolsa nas costas. Mapa da cidade na mão. E do lado de fora, um sol no céu. Cerca de trinta minutos até o centro, no buso centropuerto. Daqui pra baixo os tópicos sobre os quase quatro dias em Santiago. Pode até, se preferir, escolher e ler o assunto de maior interesse e descartar outros.

· Brasil
Para começar a rua do albergue ficava de esquina com a Calle Brasil. Andando mais uma quadra, Plaza Brasil. Quer dizer, o bairro todo é Barrio Brasil. Uma amiga especulou: “Isso graças ao Lula, né.” Não, o Companheiro não construiu o gigantismo do país, potência do continente e que conta com a fartura de craques do futebol para espalhar mais ainda a bandeira brazuca pelo continente e mundo.

No primeiro dia cansei de ver camisas verde-amarelas (uma era do Andréas Kisser, do Sepultura), goleada nas azuis e brancas da rival Argentina e batendo as vermelhas chilenas. Nos outros dias, a diferença diminuiu senão empatou: muitas camisas do Boca Juniors – melhor time do continente. É claro que se deve levar em conta, além proximidade geográfica argentina, o idioma.

A primeira refeição teve trilha sonora especial: “Bwuna, Bwuna (...) Adeus sarjeta. Bwuna me chamou. Não quero gorjeta. Faça tudo por amor.” Música da dinossaura do rock, Rita Lee, que trouxe bem-estar e fez a comida descer leve, leve. Devo confessar que se tem uma coisa que me faz cantar a plenos pulmões, é quando estou no exterior e toca música brasileira. A pronúncia português sai com gosto e orgulho.

Pra finalizar, dia 20, a notícia do dia, via site da gazeta esportiva: Ronaldinho Gaúcho é o melhor jogador da FIFA. Dia seguinte, sua foto era destaque num dos principais jornais local, o La Tercera.

· Albergues
La Casa Roja. Endereço: Agustinas 2113 - Barrio Brasil, 10 minutos da estação do metrô Los Héroes. Prédio vermelho e antigo, pedindo umas mãos de tinta. Esperava encontrar funcionários chilenos, mas me deparei com uma torre de babel: dono australiano, mais recepcionas alemã, suíça, americano e um outro com a camisa da África do Sul. A alemã me atendeu e a suíça me levou até o quarto, no segundo andar. Antes passei por um cachorro enorme, deitado no sofá da sala, como se fosse o dono do pedaço.

Ao entrar no quarto: “What a big mess!”, verbalizou a suiça o que meus olhos constataram: no chão, três pilhas de roupas e badulaques dos mocheleiros. Disse também, porém, como se fosse a coisa mais normal do mundo. É bom que se deixe claro que só deixaram desse jeito porque não há armário no quarto. Sou bagunceiro, mas aquilo foi demais.

Só não pedi reembolso (paguei três dias antecipados), pois dentro de mim havia um lema positivo de “nem tudo é como parece ser”, que encontraria amigos e relevaria à estadia a um plano bem inferior. Nada, atmosfera é tudo, e ela não conspirava a favor. Primeiro albergue em que pago café da manhã. Até uma vantagem se virava contra: os vinte minutos diários de Internet grátis, mas também, os teclados eram precaríssimos.

Quando perguntei ao recepcionista americano se poderia pedir devolução e ele fez com os ombros “no problem”, fiquei felicíssimo. Rapidinho fiz as malas e fui para um outro albergue, ruas próximas, a qual já tinha sondado valores e condições. Tanta felicidade que já nas ruas, de havaianas, dei por falta de meu par de tênis; estava debaixo da cama...

Esse é credenciadíssimo do Hostelling International. Endereço: Cienfuegos 151. Também na estação do metrô Los Héroes, a quatro quadras da Alameda Libertador Bernardo O’Higgins, que corta a cidade de ponta a ponta. Comparado com o outro, R$ 8 a mais. Compensa com sobras em estrutura: dois micros disponíveis pra Internet grátis, quartos para só quatro pessoas com armários espaçosos, limpinho e acolhedor. De igual ao anterior, só o fato de necessitar pagar o café.

Assim que voltei do centro, na Internet, já puxei papo com uma garota com a camisa do Brasil, mas que de maneira alguma era minha conterrânea: procedia de Londres – também não tinha cara de européia?! Filha de indiana com africano, bem exótica. Super simpática, já me convidou pra beber com a galera do albergue.

Num hipotético placar contra o outro, apontaria uns impiedosos 6 x 1 para o Hostelling International, o primeiro só leva vantagem no valor.

· Passeios ao centro e Cerro de San Cristobal
Falando em havaianas, elas, fashion, graças ao comercial da Naomi Campbel e a top-model brasileira, Fernanda Tavares da MTV, rodaram bem pelo centro. Dos enormes prédios do poder político, La Moneda à ampla Plaza de Armas, onde outrora foi casa de Pedro Valdivia, fundador da cidade. Onde se destacam uma igreja catedral, correio central, prefeitura de Santiago, um bar no meio da praça cercado por divisórias de meio metro, artistas de ruas, pintores, ambulantes, eventos e muitos passantes. É o coração da cidade, senti bater. Ainda mais em época de Natal, quando as ruas se enfeitam com os adornos habituais.

Cerro, que porra é isso? Em Santiago, como pontos de interesses, tem vários deles. A principio imaginei ser um mercado. Nada, é um monte com vista privilegiada. Pra chegar ao mais famoso deles, o Cerro San Cristobal, grande protetor da cidade, recebendo a estátua de Virgem Imaculada Concepción ao alto do monte. Está localizado dentro de um parque, meia hora caminhando desde a Plaza de Armas. Ao chegar lá, a curiosidade era o funicular, espécie de bonde utilizado em subidas íngremes, mas ia demorar e preferi subir de van. Deste cerro se tem a vista mais privilegiada da capital chilena.

Paguei pelo teleférico que leva até um bairro residencial, devo ter circulado uma meia hora. No começo, sozinho, dentro do vagãozinho, me senti o “folgado”: sentei com as pernas apoiadas no outro banco. Quando ele parte, dá uns trancos e tremidas, olhei pra baixo e confesso que bateu um leve medo: “E se esse ‘trem’ resolve cair comigo?”, pensei. Bobagem, foi que foi e a vista é preciosa!

Pra descer o tal do funicular, já pago, encrencou e não teve acordo, não poderia aguardar uma hora pra ser restabelecido. Desci de táxi. Em Viña del Mar e Valparaíso também não deram certo esse transporte. Zica mesmo!

· Gringos
O primeiro que conheci foi um alemão, Mark, no restaurante Vaca Gorda. Como já tinha o visto no La Roja, pedi pra sentar na mesma mesa. Conversa vai e vem, descobri que o drama dele era alterar o vôo, pela TAM, do dia 24 para o dia 23. Em férias, dei uma consulta, diria: “Você tem que checar se há disponibilidade na mesma classe e, certamente, terá que pagar de taxa de remarcação cerca de US$ 100,00.” Arruinei o dia do alemão. “Tudo isso? Que absurdo!”
Recomendei consultar pelo nosso serviço de chat, até ia com ele pra auxiliá-lo, mas disse que não precisava. Esquisito ele!, então que pague e traga assim, mais lucro pra empresa. Outra divergência com o Mark: quando veio a conta, o garçom perguntou se poderia incluir a propina (gorjeta) no cartão de crédito: uns R$ 3. Como é opcional, o valor da conta estava acima do orçamento e porque propina me cheira corrupção, decretei: “No propina!” O garçom e o alemão, pelas expressões, desacreditaram. E eu com os ombros, “tô nem aí...”

Um uruguaio, Cristan, puxou conversa comigo num bar, na Plaza de Armas. Aqui a negócios e cheio de histórias. Falou sobre o tempo em que viveu em algumas fazendas de Minas, ele é veterinário. “Gosto de animais.” Conhecedor de todo o continente sul-americano, preferiria morar em Paramaribo, Trinidad Tobago, “não há as loucuras das grandes cidades”. Alertou para o crescimento do Chile, país que é bem menor que o Brasil, portanto com menos problemas. Inclusive, segundo o uruguaio, é o melhor lugar pra se fazer negócios, ele mesmo está se mudando para cá. Quanto o assunto foi mulher, foi polêmico: “Gostaria de ser polígamo como no Oriente Médio. Mas tem que ter um número impar de mulheres, para não haver discordância. E mulher não pode pensar muito, temos que pegar uma pedra bruta pra moldá-las.” Machista, não? Mas o Cristan foi super bacana e deixou um recado pra quando estiver visitando os lugares: “Não importa o local, sim as pessoas. Falar com gente, sentir suas necessidades.” Achei o profundo em sua semi-embriaguês. Depois me enchi do seu papo e fui andar...

Duas garotas do segundo albergue, coincidentemente, trajavam camisas da seleção brasileira. Uma já apresentei (a inglesa-indiana-africana). Já a outra, Cristine, americana, morou seis meses em Belo Horizonte. “Sou Galo [Atlético] desde criancinha”, garantiu convicta, num fluente português, aliás, ela adorou o Brasil.

Dois australianos, Jeremy e Esquecido (simplesmente esqueci o nome do carinha de Sidney). O outro era de Melbourne, segunda maior cidade australiana. Voltando da janta, dentro da praça, um deles cismou que queria se mostrar numa rampa de bike. Pediu então a bicicleta, bem menorzinha, emprestada de uns pivetes. Imaginei que fosse dar o show, fez nada demais. Já o Esquecido fez: tomou um tombo e alegrou a noite de todos! Bem feito. As holandesas eram bonitinhas, mas não peitudas como corre a fama delas. A Elke e a Caroline, ambas se conheceram em viagem. A Elke, na janta, ameaçou que ia tocar piano no restaurante, mas mesmo a pedidos, amarelou. Já a Caroline está chocada até agora: na praça surgiu um cão dobermann enorme, queria só brincar. Empolgou-se e, literalmente, encoxou a pobre da holandesa – cena dantesca! Quase chegou às vias de fato, com roupa e tudo. Sexo animaaaalllllll!!!!! Todos, mesmo aos risos, desacreditaram. Depois que ela se recuperou do trauma, agüentou as brincadeiras numa boa. Pena que não fotografei nem filmei.

“Puedes sacar una foto?”, pediu uma garota, em frente ao relógio de Viña del Mar. Tirei a foto, mas notei o leve sotaque da moça. “Você não é do Brasil?” Bingo, era. De Minas, sô. Vai ficar na categoria “gringos” por pura falta de outro tópico. Taciana era seu nome. Ela adorava perguntar, sempre queria reconfirmar uma informação dada, 100 metros depois. Irritava. Andei com ela de Viña até Valparaíso. De trem, como todo bom mineiro.

Físico, cidadania israelita, morou na Alemanha e nasceu em Bagdah. Esse era o tio Jamil. Quem conheceu tal figura foi a Taciana, no ônibus subindo para o museu do Pablo Neruda. Falava espanhol com ela e inglês comigo. Fofocou comigo que não gostou que a mineira quis sair do vídeo do Neruda na metade. Só ouvia, mas a mineira era chatinha mesmo. Outra queixa do judeu era que não pagaram a palestra que ele deu na Universidade do Chile. “Nem valor simbólico”, lamentou. Nas ladeiras de Valparaíso propôs uma cerveja. Segundo as leias chilenas, não se pode beber cerveja na rua, advertiu a advogada Taciana. O Jamil nem deu bola: tomamos a cerveja com uma vista – estarrecedora! – do Oceano Pacífico e casas tombadas pelo Patrimônio Histórico da Humanidade.

· Diferenças
Andando nas ruas centrais tem que ficar esperto. Isso porque o piso não tem o nosso rebaixo da calçada, ocorre, porém que nas extremidades passam carros. Achei curioso. As bancas de jornal (que não vendem cartões postais) são uns quiosquinhos bem pequenininhos.

Uma diferença que me afetou foi pra recarregar o palm top. O pino é só aquele de dois furinhos, diferente do “pino americano” retangular. Tive que comprar um adaptador.
O metrô é bem moderno, ali com o de São Paulo. Ambas com cerca de 50 quilômetros construídos, a diferença é que a população de SP é umas quatro vezes mais que a de Santiago. Outra vantagem nesse metrô são umas televisões digitais nas estações. Só não pergunte qual a programação.

Essa me ganhou: segurança. Praça Brasil, meia-noite e meia lotada. Feirinhas, bikers, outros tocavam violão, um casal se beijava tranqüilamente. Nós (as duas holandesas, os dois australianos, a americana e eu) fazíamos um picnic, na verdade compramos quatro cervejas e tomávamos sentados na grama. A mesma do cão tarado. Voltando na questão central, nem a pau que dá pra se fazer isso em São Paulo com o alto índice de criminalidade... eu, ao menos, nunca vi. Estou falando de Santiago, que é mais do que quatro vezes menor que Sampa, mas mesmo assim é uma cidade mundial. Coisa elogiável. E a Praça Brasil ficou de ironia... Utopia, lamentavelmente, que o “País Brasil” não seja assim.

· Comidas, bebidas e tempo
Pra comer me virei na base do pollo (frango) com arroz. O frango era só uma grande peça de coxa. Já comi melhores e piores. Também comi as parriladas e lomos, tipos de carne. Quanto ao nosso feijão, não constava no cardápio e nunca perguntei se tinha, aliás, nem sei como se fala em espanhol. Arroz é arroz mesmo. Tomei em cinco oportunidades a cerveja chilena Escudo. Não me convenceu.

Comprei um vinho chileno, Casilero del diablo, Merlot. Nome de meter medo. Pois chegada a noite de Natal, aqui no Brasil, a expectativa era grande pelo vinho importado. O amigo Fernando falou que se deve segurar embaixo da taça e mexer pra dar um barato. Bebi. Sem cerimônia, eu não gostei. O Gui disse que era forte. Fernando, Sérgio e Toninho gostaram. “É um vinho pra se beber com carne. É bem sofisticado”, teorizou o Fernando. Conclui que, por não ter gostado, não sou sofisticado.

Saí do Brasil com o rótulo das transmissões de futebol de que Santiago é a capital mais fria da América do Sul. Sim, mas no inverno. No verão, nos três dias que fiquei, sol bem quente e agradável. Sendo assim, o sobretudo e a blusa só fizeram peso. Se bem que poderia utilizar numa eventual ida às Cordilheiras dos Andes. Não fui.

Se na capital tá sol, com o mar de Viña del Mar, será o casamento perfeito: sol e mar, pensei. Deixei até uma bolsa, com as blusas e outras peças, no albergue, pra não carregar peso. Logo na rodoviária viñamarista, às 14h, surpresa: como venta no Pacifico, demais! Frio, me senti um panaca, outra invertida climática! Comprei blusa até, pois estava quase que insuportável. No decorrer do dia o céu abriu mais me fazendo pensar que no dia seguinte daria praia. Que isso!, li agora o que site diz sobre as águas do Pacifico: “A água fria do mar não esquenta nem no verão, devido à corrente que vem do pólo.” E mais: “Há neblina matinal nas praias de Viña del Mar. Mas não se desespere. Depois do almoço, o sol aparece” O site está certo, de fato o sol – viadinho – apareceu, mas eu havia de voltar pra Santiago.

· Gentilezas do povo
No geral não agradou. Alguns eventos chatos, nada de extraordinário, no entanto: na Plaza de Armas, pedi uma cerveja média. A garçonete trouxe uma grande. Não aceitei, pois era o dobro do preço. Ela retirou a garrafa, tampou a tampinha com um murro, fez uma cara de “fezes” e foi buscar a menor.

No metrô, comprei um bilhete ida-e-volta. Inseri o bilhete e a máquina não devolveu o da volta. O guarda, vendo, perguntou se eu tinha comprado mesmo ida-e-volta. Claro! O guarda foi ao guichê confirmar o que havia acontecido com o caixa, acabou achando melhor abrir a catraca e eu mesmo se entender com o caixa. Já cheguei argumentando firme que paguei bilhete duplo. Ele não falou nada, fez que não queria muita discussão e deu outro bilhete com cara de poucos amigos. Eu, heim, os caras batem cabeças!

Nas duas vezes que fui comprar cerveja (em Viña e antes do picnic) também um tratamento meio tosco, sem uma razoável boa vontade.

Mas obviamente há os bons exemplos: a tiazinha da pousada que fiquei em Viña del Mar recomendou com sinceridade: “Não confie em crianças, idosos ou chicas [garotas] bonitas. Mantenha os olhos abertos por aqui.” É, malandro, jacaré marcou virou bolsa...

· Pinochet

Todas as esquinas em que andava, imaginava como seria esse país em tempos duros da ditadura, há menos de quinze anos. Principalmente no prédio de La Moneda, onde choveram bombas em Santiago, no Golpe Militar do General Augusto Pinochet, que tomou o governo socialista de Salvador Allende, em 1973.

O autoritarismo de Pinochet deixou cerca de 3.000 mortos ou desaparecidos, entre eles chilenos e simpatizantes estrangeiros, durante a repressão que se instalou entre 73 e 90.

E hoje vovô Pinochet, aos 84 anos, covardemente, implora pra que lhe dêem tratamento de insano, pra só assim não pagar pelas atrocidades que cometeu. Ainda há 60 processos contra o general em cortes chilenas. Esta é uma Nação ainda dividida nas questões ideológicas e que ainda não superou os terríveis desdobramentos do golpe militar. Ainda há hoje aqueles que simpatizem com o General. “Ele nos salvou de um governo comunista e depois nos entregou ao regime democrático”, defendem muitos chilenos. Os iludidos.

· Chilenas
Decididamente se você, caçador, quer ir atrás de mulheres, não vá ao Chile. Elas são hor-ro-rí-ve-is! E que nenhuma delas me leia, por favor. As que apresentavam rostos mais ou menos, tinham corpos desconjuntados, muitas! Em Viña del Mar, os ventos do Pacifico, melhoraram um pouco meu achômetro.

No ônibus de Santiago a Viña del Mar, encarei uma morena firmemente, ela retribuiu, não tenho dúvidas disso. E nada de vir a coragem pra sentar ao lado, mandar bilhetinho etc. Estava ganhando tempo… Nesse jogo de troca de olhares, ela foi sentar lá no fundão. Xiiii… uma ducha de água fria em qualquer pretensão. Nunca saberei o que ela pensou e nunca esquecerei aquele olhar. Quando o buso chegou ao destino, uma tiazinha estava esperando por ela, que acenou. Vai ver que a melhor chilena que namorei – com os olhos – tem namorado. É um consolo – menina séria!

Em Viña, um entregador de legumes fez um carnaval tremendo – “uau!!!” – pra saudar uma chica de formas generosas. Aqui no Brasil então o que ele faria? Falando em traseiro, meu inglês não captou bem um papo dos australianos com a americana: mas parece que o Jeremy viu uma carioca que o tirou da órbita pelo resto da noite. “What a behind!!!”, exclamou babando.
No metrô, de frente a frente, duas gatinhas. Mas ainda assim insuficiente. O que me tornou critico em relação às chilenas foi ter passado mal em Porto Alegre, só gata tri-tetra-penta BOM & GOSTOSA!!! Inglaterra, França, Argentina, Paraguai e agora Chile. Em nenhum desses países que conheço, há mulheres como no nosso Brasil. Ainda que gosto seja extremamente pessoal – e sendo brasileiro, sou parcial – temos um paraíso feminino.

· Vinã del Mar e Valparaíso
Viña del Mar é um brinco do Pacífico. Amei essa jóia rara que pode ser considerada o Guarujá do Chile. Ainda que ao chegar o tempo não tivesse sorrido pra mim (ler “comidas, bebidas e tempo” acima). Charmosa demais e pelos carrões importados e lojas de grifes, tem grana! Um convite aos passeios e às compras. Indo pro Oceano, do lado esquerdo, os funiculares (outros que não me aceitaram…). Sem dúvida quero voltar pra andar mais nessas ruas agradáveis. Vinte minutos de trem ou micronibus e se chega em…

Valparaíso, cidade histórica. Grande parte, com seus casarões coloridos de dois e três andares, tombados pelo Patrimônio Histórico da Humanidade. Ou seja, prima do Pelourinho. Cidade de cais é também perigosa, drogas, prostituição e crime, não vi nada, mas uma meia dúzia pediu pra andar ligeiro.

O clichê vale: vir aqui e não subir até a casa de Pablo Neruda, não veio, definitivamente a Valparaíso. Chamada de La Sebastiana, tem cinco andares. O poeta famosíssimo mundialmente e Prêmio Nobel da Paz, decorou seu refúgio de veraneio a dedo: obras de artes, espelhos e mais dezenas de detalhezinhos. O resultado final é de profundo bom gosto. O que se enxerga de qualquer um dos andares faz de qualquer mortal um imortal das letras.

Obs: aos fotógrafos só é permitido mirar o horizonte, o Pacífico – o quê não é desprezível –, e as funcionárias viram feras àqueles que desejam clicar um alfinete que seja dentro da casa.

· Espanhol
O ponto mais enriquecedor desses quase quatro dias nos Andes, indubitavelmente, foi o espanhol que se encorpou um bocado e cada vez mais se distancia da muleta do portunhol. Considero que já passei da metade do caminho que compõe a estrada de idioma rumo á fluência.

Se inicialmente o castelhano falado soava árabe – normalíssimo –, no aeroporto santiaguino, a confiança me permitia pronunciar firme. Na véspera da partida, assisti televisão chilena e no último dia, devorei jornais chilenos.

Mais: fiz a descoberta do ano em matéria de idioma: os espanhóis - puta de uns preguiçosos - devoram o “s”! Esse par de orelhas grandes custou muito tempo para pescar o óbvio. A cisma começou com a palavra “Espanha” que é mais do que uma simples palavra, é a mãe da língua. Então, o “s” não sai e o “E” vem com força: Ê-panha. A gota d’água foi sentado na mesa de um restaurante, mais precisamente quando pedira uma cerveja e o garçom questionou: “Ê-cudo?” Antenado, notei a falta da letrinha; me senti o conquistador da América Espanhola. E pronto pra novas conquistas idiomáticas!

Claro que terei que ser menos vagabundo do que o inventor de línguas que assassinou o pobre do “s”, ou seja, sem preguiça: tenho que dar um gás no idioma para crescer ainda mais.

· Preços
Santiago não é tão caro, diria que está um tanto acima do que gasto em São Paulo, uns 10% se muito a mais. A exceção fica por conta de dois itens básicos: estadia nos albergues e refeições. No caso de estadia, deve ter sido dolarizado e quem sofre são os locais. Mesmo o albergue zoneado custou R$ 25, mais R$ 5 de café da manhã. O dobro do que paguei em Foz de Iguaçu (16), e lá tem piscina, gramado tapete etc. Pra almoçar paguei em média R$ 15. O equivalente aqui cairia pela metade, presumo.

Sobre transportes, bilhetes de metrô e corridas de ônibus estão na mesma faixa. São Paulo – Guarujá é equivalente a uma Santiago – Viña del Mar. E não me pareceu caro o ônibus centro – aeroporto, R$ 10, ida e volta.

Latinha de coca, na mesma proporção. Já a pechinha é por um produto genuinamente chileno: vinho. Paguei 15 Reais no Casilero del diablo, Merlot, o que custa 35 aqui. Só não comprei dois ou três porque a adega não aceitava cartão e estava com poucos Pesos.

· Despedida
Morri com P$ 390 (R$ 2,11), no saguão do aeroporto, uma simples coquinha saía pela bagatela de P$ 800 (4,32). Caçarola! Aeroporto é isso, inflação. O diabo é que estava com sede, troquei com um carioca mais o equivalente a R$ 5 e bebi a desejada coca.Nos ares, da janelinha do air bus da TAM, saquei preciosas fotos da Cordilheira dos Andes, misto flocos de neves e nuvens. Só vendo. Lembrando a cordilheira, a mineira disse que fez um passeio pra lá, em que se vai todo empacotado de roupas e se anda 3h30 pra ir e outras pra voltar. Deve ser louco, custou R$ 80.

River vs Boca, no Monumental

Novembro/05
Opinião boquense – “A torcida do River não se compara a do Boca”, zombou o Estebán. Nada de novo, a impressão que passa é como as torcidas de Corinthians e São Paulo. Para o jogo do Monumental Danilo usou a camisa do Boca, Sérgio a do River e eu também galiña, com a preta de manga cumprida emprestada do Sérgio. Me dei bem e passei menos frio. O Estebán ficou puto: “Você não disse que era Boca, carajo?!” Fui, desenvergonhadamente, um puta de um bandeirinha.

Eles não param! – Como é difícil parar os táxis pretos com capota amarela – horríveis! Meia hora cansando a mão de acenar. Até que os bocós se convenceram que o mais sensato é voltar ao hotel e pedir por lá. Ufa!

TV e revistinha – Rumo ao Galiñero do River recebemos uma revistinha colorida com as escalações dos times. Um luxo! Outra grata surpresa é em cada pilastra da arquibancada um monitor colorido pra rever as jogadas. Mania de comparar tudo ao Brasil. Nesse caso sofremos. Televisão nos estádios tupiniquins ia levar uma pedrada por jogo, dado a falta de educação dos nossos torcedores gorilescos. Me parece que essa civilidade temos que aprender com os hermanos.

Papéis picados – Uns torcedores de trás rasgavam todas as revistas pra atirar. O River entra em campo. Só se vê papéis ao ar, bandeiras, cantos, emoção dos fanáticos torcedores. O argentino extravasa seu amor clubístico com mais paixão e intensidade que os daqui. Mulheres e crianças inclusive. Arrepia muito! A bem da verdade esse detalhe e outros valeram o ingresso, porque o jogo... arghhhh... afff... humpf!

Las hinchadas – A torcida do River quando pega é intensa, mas logo cansa e morre. Já a do Boca, meu amigo, só quatro mil e meio fizeram barulho suficiente pra calar 50 mil. Não me conformei! Tive raiva de onde estava, preferia tirar a camisa galinhesca, pisaria em cima e correria pro outro lado. Também tive medo do “ato falho”: por conhecer as musicas dos boquenses, balbuciava alguns trechos. Meu primo que me dava umas cotoveladas tipo “vai morrer aqui, Zé”. E se saí gol do Boca? Ia levantar pra comemorar...rs... aí nem Freud conseguiria explicar pros riveristas que aquilo é manifestação inconsciente, que a culpa não é minha. Mas enfim, soy Boca, estoy seguro!

Entre as músicas do River, havia uma em o ritmo da “Cidade Maravilhosa”. A do Boca também usa a marchinha do “mamãe eu quero”.Um plágio muito do criativo do consagrado carnaval carioca.

Intervalo – Improvisaram uma quadra reduzida no meio campo para homenagear o time argentino de futebol de salão para cegos, campeão mundial, acho. O alto falante pediu silêncio pois os jogadores se orientam pelo barulho do chocalho dentro da bola. Hilário um garotinho fazendo um educado “psiu” para o vendedor de amendoim. Mas quem calava os do Boca? Continuaram fazendo barulho por provocação mesmo. O alto falante insistiu para os simpatizantes do Boca se calarem – inútil – aí que o som e a indignação do time da casa aumentaram. Mas também quando o jogo dos cegos acabou a ovação foi de “bolivianos!!!” Engraçado ao mesmo tempo revoltante o preconceito argentino – pra ofender o rival ofende uma nação! Isso porque os bolivianos (bolitas) e paraguaios são os lixeiros, trabalhadores braçais. Como se alguém nesse país, continente e planeta fosse melhor que os branquinhos nazistas. Tenho asco de preconceito, sou até radical.Aburrido[1] – No avião um chileno usou esse adjetivo pra definir o que foi o jogo. A mesma do Ezequiel. Mais que isso a capa do Diário Olé: “pior que pegar mãe no tanque”. Completava que as mães – era dia das mães na Argentina – não mereciam um jogo tão feio. Nem o juiz deixou sair um vencedor, ao não dar dois penais pro River. Cinco linhas foi muito pra escrever sobre tal espetáculo.

[1] Chato, maçante, intragável. Se eu estou aburrido é porque estou chateado.

Reais valem mais do que Pesos!!!

De trem – Na tarde de sábado e após ter finalizado seus exames da universidade, Estebán Careca chegou ao hotel. Aproveitei para, como prometido, lhe dar a camisa 10 do Corinthians – e do seu compatriota Carlito -, feito de um rateio entre os que vieram em maio. O escrete brasileiro juntou as roupas e bebidas e fomos com o amigo adversário de logo mais. Além do Sérgio, Danilo e eu, o Max e o Felipe. Pois o Marcel Toni Ramos, segundo eles, é “descoordenado de tudo”. Da estação de Trem Retiro até La Lucilla é bem pertinho. Em pensar que, há quase cinco anos, do ponto do Estádio do River até a casa do Estê são pouquíssimas estações e eu andei um monte, demorou no auto bus e ainda me perdi, tendo o Carlie (irmão do Estebán) me buscado.

Biscoitos “santos” – Chegando na conhecida Calle Jose Ingenieros, deixamos as coisas. Cumprimentei seu Carlos e Dona Lili, um casal de ouro. Contaram-me das férias em Recife e Fortaleza. Gentilmente, eles me ofereceram uns biscoitinhos. Sai-me com essa: “Daqui a minutos jogarei contra seus filhos e outros argentinos. Não posso aceitar, vai que tem alguma coisa... Lembra da água santa?” Eles riram muito e fizeram que tudo bem, que entendiam a “preocupação”. Um absurdo essa brincadeira, tão dóceis como pude levantar tal suspeita?

Cabeçudo – Avisei a todos já no Brasil pra trazerem a camisa pentacampeã canarinha. A minha “joga 10” do Ronaldinho Gaúcho comprei especialmente pro jogo. Amarelo ouro pois – puta lo que o parió – custou 150 Reais! O Max e Felipe trouxeram camisas em tom amarelado. O Sérgio usou seus dotes de lavadeira na camisa do Ronaldo Fenômeno, impregnada de cachaça. Todos a postos e prontos pra ir, pus a oficial por baixo e a do Anapolina[1], nº 33, por cima. O Danilo perguntou se eu estava levando a camisa. Lógico. Não sei o que passou pela cabeça dele, que imaginou que eu estava levando o uniforme de todos?! Como se havia pedido que todos trouxessem as suas? Viajou grande...

Brasileños – Um argentino, que como nós esperavam o horário de entrar no pasto (piso sintético), questionou se éramos mesmo do Brasil, pois uma camisa verde-amarela pode ser uma homenagem de algum argentino, como se vê algumas camisas azuis e brancas por aí. Duas, uma grande coincidência, dá pra aceitar. Três não, aí é invasão brazuca digna de se notar. E ter medo. A seguir.

Foto – Diferente da outra partida que perdemos por 5x3, fora o pênalti não dado pra eles, nesse confronto seria somente quatro na linha e um no gol. Segue escalações. Brasil: Felipe no gol, Max, Sérgio, Costa e Danilo. Fotografados para a posteridade. Argentina: Estebán no gol, Daniel, Martin, Carlie e Juan. Bola rolando, pausa para um câmbio: Danilo entrou de preto devido à orelhada acima, o que causou confusão com o preto da camisa dos argentinos Daniel e Juan. Danilo usou a vermelha do Anapolina, emprestada por mim.

O jogo – Começou com equilíbrio. Max fez o primeiro, logo empatado. Segundo e terceiro a nosso favor. Os argentinos diminuíram. 3x2. Tensão. Bate-boca entre eu e o Danilo. Ele havia perdido dois gols, não reclamei pra não enervar a equipe, prefiro sempre o incentivo, as palmas. Bela jogada, ele veio fazendo fila, soltou a bola, me deixando de frente para o crime, chutei de esquerda, bisonhamente, pra fora. Ele reclamou, queria o passe pra coroar o gol, tipo a “cereja do bolo”. Não gostei, perdi a paciência e mandei um autoritário “cala a boca”. Os rivais não devem ter entendido nada – estão ganhando e brigando entre eles, ¿ que pasa? Danilo queria que lhe assistisse como fiz havia duas semanas: cinco passes pra cinco gols dele, mas simplesmente não tive a visão do passe. O gol seguinte ao entrevero a bola sobrou quicando como se pedisse “me chuta, me chuta”, obedeci ao bordão de José Silvério[2], chutei com raiva e gritei “gol” alto pra todos ouvirem, como se para diminuir os efeitos da discussão e unisse o time novamente. Ele também fez um e cobrou: “Aplaude também, Costa!” Claro, e com justiça.

Daí pra frente perdi a conta do placar. Um deles, teve marca do futebol brasileiro: a bola foi de pé em pé, o penúltimo toque foi meu, caído, para o Danilo. Só não levei a filmadora de meu irmão porque não sabia que o outro irmão a levaria para o interior, adoraria ter o registrado esse golaço, para a posteridade. Os porteños adotaram uma tática ousada adiantando o goleiro como se fosse da linha. Se deram mal, tomaram dois por erro de passe do goleiro. A única ocasião em que os contrários nos botaram na roda com uma envolvente troca de passes não redundou em gol. Além de tudo, o azar era só deles.

Com o placar na casa dos dois dígitos temi pela firula brasileira. O Danilo estava louquinho pra humilhar e dançar cumbia em cima. O Felipe andou sobre a bola duas vezes seguida. Eu tentava conter isso pedindo pra evitar, mas de acordo com o Sérgio fui contraditório: “Como você fez duas petequinhas e parou a bola dominada no pé pode pedir isso?” Mais do que ninguém, tinha motivos pra dar um troco no Daniel, pois no duelo anterior me deu um rolinho vexatório de frente. Lamentei um lance em que dei um chapéu ao lado do Daniel mas a bola pousou na cabeça do Max, sem esse corpo me atrapalhando, ou batia de prima ou avançava com a bola rumo a um golaço. Sei que sobrou rolinhos e dribles do Sérgio e Danilo. Gambetas + gols = SHOW! Aí argentino lembra que tá apanhando é de brasileiro, Pentacampeões, chocolate na Copa das Confederações, Finalistas na Libertadores, Lideres da Eliminatórias, melhor jogador do mundo etc. O resultado disso é que os antes (em maio) cordiais argentinos, perderam o fair play. Quer dizer, o Daniel, o capitão moral e organizador deles: ao menos em mim deu três pegadas, uma fui ao muro que deixou marca na palma da mão; as outras não joguei duro pois o placar estava dilatado. Mas teve mais do argento nos outros.

O gol fatal não foi feito com o pé ou a cabeça, sim pronunciado. Brasil 13x4 Argentina, não sabíamos quanto tempo restava ainda, talvez uns 5 ou 10 minutos. Só saberíamos quando soasse o apito dos donos da quadra. Daniel, ciente do placar, do nosso apetite e do preparo físico deficiente deles decretou “es suficiente”. Numa briga de vale-tudo acaso o oponente “pedir água” termina o combate. Pois assim acabou, com um placar incontestável. Eles anotam placar pela diferença de gols, o que nos dá um Brasil 9x0 Argentina. Se se considerar uma soma agregada ao match sul-americano de cinco meses atrás, ficou Brasil 16x9 Argentina. Defino essa revanche assim: nas Eliminatórias, perdemos, em Buenos Aires, por 3x1, e revidamos com um retumbante 4x1 na Copa das Confederações, ou seja, assim como nos profissionais, colocamos as coisas nos devidos lugares.

Se entrevistado fosse jamais arriscaria tamanha surra. Ninguém, por mais otimista que fosse, tascaria tal conta. E sinceramente para um próximo jogo os amigos do Esteban terão que rever e reforçar o time. Claro que, com exceção a mim, nunca seremos os mesmos, mas deu pra ter certeza que eles são limitados. Uma limitação maquiada na derrota de maio. Engraçado a definição do Marcel Toni Ramos: “Vocês estavam mais entrosados.” Como se nos conhecemos no aeroporto? Entrosados são os argentinos que se conhecem há anos e era a mesma equipe que ganhou em maio, exceção feita ao Mariano. Futebol não tem lógica, “é uma caixinha de surpresa” como reza o gasto clichê dos boleiros.

“Não acredito nesse placar”, Figueira desconfiou meio que tirando sarro. E como perdemos para os mesmos caras, meu catzo? Estava frio pra caramba, chegamos atrasados, mas principalmente, no enfrentamento passado havia ao menos três “âncoras” que afundaram nosso barco. O goleiro Gordela que aliás entregou o primeiro tento e fez um penal não anotado, ainda que tenha entrada numa fogueira desgraçada e tenha defendido vários chutes. O Maffei que, gordo e lento, comprometeu na marcação e o Tiago que destoou tecnicamente dos outros.

Só soubemos do número exato de gols pela conta individual do que cada um anotou: O Max marcou dois, lembro só do primeiro; O Danilo jogou muito e foi às redes cinco vezes, sendo que três eu tenho claro na mente; eu, ganhei a “chuteira de ouro”, meia dúzia de bolas dentro. Onze em partidas internacionais: sete no clássico da América do Sul, mais quatro em Londres-96[3].
Curioso, depois do jogo tive a sensação de não ter tido uma boa atuação. Que o ar seco, a bola pequena, os constantes escorregões no piso sintético argentino atrapalharam me demasiado. Lembro das broncas do Sérgio por em alguns momentos conduzir demais a bola Pura balela, os números falam por si só. Não bastassem os gols, os tiros a meta (+ ou – 12, sendo metade caixa), assistência (de uma eu tenho certeza) e a média de nota da galera. Depois dessa introdução, fica fácil falar dos gols. Há raros jogos em que faço uma espécie de pacto com o gol, essa tarde foi uma delas. Com sorte, a bola me procurou. Gostaria de estar de fora para enxergar melhor os lances dos outros, mas de dentro só me lembro dos meus e olhe lá.

Uma semana após o show tive claro na memória os seis gols que logrei. A eles: pode se dizer que eu, um destro convicto, entrei en la cancha da Uniball, com o pé esquerdo, pois metade dos meus gols foram com la zurda (canhota): um chute de peito de pé na gaveta – lindo!; o mais bonito, Danilo chutou antes do meio campo com o goleiro adiantado, a bola acertou o travessão – que pena, seria uma pintura! Também não valeria na regra local – “é jogo de botão?”, sacou o Figueira –, porém na seqüência, minha canhota pegou em cheio e carimbou, como num fliperama, ambas as traves em cima e sorriu para dentro: é gol! Três bombardeios na trave em menos de 10 segundos. O terceiro de canhota se passou num lance em que cortei para o meio, bati mascado e ela entrou rasteira rente à trave direita. Afora esses, arrematei uma bola na ponta direita, após receber do escanteio com muito capricho e efeito. Um ventinho a menos (ou se a trave estivesse um pouquinho mais à direita) ela entraria perfeita. Como lamentei essa infelicidade!

Com a outra perna, teve o descuido do goleiro Esteban, em que roubei o doce da criança (a bola, ora bolas) e segui sozinho. Quase perco, pois escorreguei. O “gol com grito” descrito acima. Pra fechar a conta, fintei o Estê lindamente, chutei sem goleiro e quase sem ângulo, mas o defensor tirou, a pelota ainda sobrou pra mim que, na raça, concluí.

Pós-jogo – “Não importa o resultado”, disse ao adversário Daniel. Isso depois de ter girado o botão da competitividade para o fair play, portanto a frase passa longe de hipocrisia barata. Na hora claro que todos dariam parte da vida pelo resultado em seu favor. Dentro de campo guerra. Fora, amigos – irmãos continentais que apesar das desavenças sobre vários campos sabem, com maturidade, separar e, ao final, convivem pacificamente. O pior é que grande parte, impulsionado pelos comentários mega-parciais de Galvão Magdo Bueno, encaram os hermanos com preconceito injustificado, vão no embalo patriótico-extremista do Magdo da Globo sem ao menos conhecer um argentino. “Odeio como ele [Galvão] fala da gente”, endossou a argentina Milagros, que morou seis anos em São Paulo.

No último take da partida, derrotados e vencedores se reuniram numa foto totalmente sul-americana. A foto da capa, oficial. A Brasentina II, já aquecendo o clima de integração para o encontro de logo mais, na casa de Esteban.

Não, Danilo não fez o golden goal que decidira a partida, não precisou, a disputa tornou-se tão fácil que só uma equipe brilhava intensamente. No entanto, ele foi um dos melhores em campo, portanto, dançou sua cumbia prometida. Entre nós, uma dancinha sem vergonha.
“Deixamos vocês ganharem, senão não viriam da próxima da vez”, inventou essa excusa absurda e divertida, o anfitrião fanfarrão Estebán. Se é pra falar lorotas então entrei no clima: “Entendo, também não quis fazer 10 gols, porque se fizesse vocês recusariam outro jogo. Por isso fiz só seis.” Ele ficou meio sem resposta e a conversa tomou outro rumo.

Estatísticas
Cavallo – Com as notas do Max se dá por encerrada a votação a fim de apurar qual a nota de cada jogador no clássico. A honraria mais esperada é o prêmio cavallo, o melhor no pasto[4], o MVP[5]. Abrasileirando, o melhor jogador em campo. Lembrando que o palestrino Giuliano relinchou em maio último. Nunca é demais lembrar que o petardaço dele no ângulo, foi o que mais arrancou de mim um forte grito de “gol” por admiração, tal a força e pontaria do disparo. Até o último dia eu havia praticamente decidido o prêmio de melhor jogador em favor do Danilo. Achei que além dos gols, fez belas jogadas e foi mais participativo. Todos os outros, Sérgio, Marcel, Felipe e Danilo, deram notas iguais a mim e ao Danilo. Coube ao Max, o último julgador, empatar o prêmio. Sendo assim, COSTA (em terceira pessoa mesmo) e DANILO foram os CAVALLOS brasileiros no pasto argentino, em outubro.

7,6 – A média da equipe ficou em pra lá de satisfatórios 7,6. O jurado-jogador que mais, votando, se aproximou dessa marca foi o Max: pra ele o time mereceu 7,5. Marcel, o descoordenado que não jogou e por isso imagina-se ser o que teve a melhor visão, votando se mostrou “o miguelado”: só 6,7 pros amigos. Agora quem votou sem economia alguma e inflacionou os números se chama Felipe: 8,5! Deu 10 pra mim e pro Danilo!, um exagero! 10 só Pelé e Maradona. E hoje, além de Ronaldinho Gaúcho, Tévez.

Complexo de vira-lata – Deu dó do Sérgio que se subestimou lhe auto-aplicando um injusto 6. “Num jogo de 13 gols em que eu não fiz nenhum, não mereço mais que isso.” Está equivocado, tanto que sua média ficou cravada em 7,3, ou 1,3 a mais que sua nota pessoal. O Baixinho jogou como um motorzinho pela equipe, dando dribles e passes. O fato de não ter marcado não significa que jogou mal. O Felipe também se mostrou severo sobre seu jogo: 6 contra 6,8 da média. Outro fato a se notar é que ninguém deu a si mesmo uma nota superior a média.

Maio vs Outubro – Pra apimentar polêmicas o comparativo dos dois times que enfrentou os Castelhanos. O primeiro derby – em que não atuamos mal, é bom frisar – tivemos uma média de 6,32. Já na revanche avançamos para 7,6. Uma evolução de cerca de 20%. Particularmente saltei de razoáveis 6,93 para expressivos 8,5. Ou seja, produzi 22% a mais. Sobre o melhor em campo, Giuliano atingiu o prêmio de consolação com um honroso 7,57. 15% a menos que a dupla Costa & Danilo.

Uma interessante solução para a polêmica criada é de promover um tira-teima entre os times. Eu jogaria meio tempo em cada formação. De um lado: Gordela, Giuliano, Figueira, Tiago, Maffei e Clóvis. Do outro: Max, Felipe, Danilo, Sérgio. Quem topa?

Subtítulo – Não enveredarei esses escritos na área econômica REAL, é sim uma viagem que, diferente do primeiro semestre, quando houve uma paridade entre as moedas, mas no fechamento do câmbio oscilamos e as ações argentinas foram mais eficazes e, conseqüentemente, tiveram um PESO maior. A cotação mais recente provou que nossa moeda Real – realmente – foi convertida em gols. Inflacionamos as redes albicelestes, que com a goleada sofrida caíram na REAL e entraram em crise, recessão. Essa derrota por certo trará um PESO desagradável na conjuntura econômica rival, ministros podem ser demitidos. Quiçá role um panelazo[6] nas bandas de La Lucilla. Os jogadores argentinos pareciam que carregavam PESOS nos bolsos, pois não se moviam. Enfim, mostramos quem são os PESO pesados do continente e também qual moeda-gol é mais forte no fut-5 de society.

Uncle George W Bush desceu do império até a América de Baixo. Sem muitas flores, Maradona encabeçou protestos contra o presidente americano. Será que isso tem alguma coisa que ver com a goleada também? Mas será???

Cavallo e economia argentina. Grande coincidência puxando um pouco para a realidade. Porém o cavalo deles, o Domenico, foi o superministro do governo Menem-2001/02 que – incompetente – atrelou o peso ao dólar, e trouxe uma crise que até hoje traz seqüelas ao país. Azar o deles, nossos cavallos fizeram juntos 11 gols.

[1] Ganhei essa camisa do Wesley, amigo, agente de turismo e dirigente do Anapolina, clube do interior de Goiás, o 33 da camisa homenageia o número de fundadores do time de Anápolis.
[2] Narrador de rádio da Jovem Pan.
[3] O clássico continental terminou América do Sul 19 x 16 Europa, Estebán jogou do nosso lado.
[4] Curioso nome do piso sintético argentino, em espanhol.
[5] Most Valuable Player, o melhor jogador de um determinado torneio ou jogo. Popularizado na NBA americana.
[6] Ficou popularizado nos anos de 2001/2, quando o povo foi às ruas porteñas protestar contra a política argentina da forma como tem que ser. Aqui não é assim, infelizmente não é.

Buenozarianas - novembro 2005

O mesmo filme – Dentro dos táxis, sempre se levantava a bola inevitável e preferida de brasileiros e argentinos – quem é melhor Diego ou Édson? Maradona ou Pelé? Os taxistas devem ter feito um curso em que se algum turista brasileiro perguntasse a eles sacavam um texto pronto de: “Bueno, Pelé tinha ao seu lado Gérson, Garrincha, Didi, Rivelino, Tostão etc. Era fácil jogar. E Maradona jogava solo, em Seleção Argentina e Napoli. São dois tipos e tempos distintos e blábláblá. Cada um foi melhor ao seu tempo.” Quando o terceiro taxista disparou a ladainha, olhei pra cara do Danilo em que se lia “de novo, eles só falam isso.”

Cerveja ou comes com cartão postal – Devo ter comido um cheese qualquer coisa abençoado pelos braços abertos do Cristo Carioca; na Chapada dos Guimarães o forninho de mesa aquecia uma picanha enquanto os olhos eram refrescados por uma cachoeira, também divina; do Big Ben Londrino acertei a hora e não tive nenhuma refeição, tomei foi um susto com um ônibus passando rente à calçada; debaixo da saia da Torre Eiffel, em Paris, não lembro o que comi, mas um salgadinho que seja devo ter mastigado; patrioticamente e sem ir muito longe – de metrô até –, em São Paulo, na famosa Avenida Paulista, quem não tomou um cerveja proseando naquelas lanchonetes em frente ao MASP? Toda essa volta para ilustrar que a combinação gastronômica com postcard de minhas andanças ganhou mais um membro: sentamos do lado de fora de um café porteño, pedimos quilmes acompanhado de tira gostos de olho no Monumento Obelisco, situado na vasta avenida 9 de júlio. Está clicado mais um.
Pro segurança não! – Desde a outra vinda pra Argentina a supervisora Martini me cobra uma pomada que só vende lá. Esqueci. Pois dessa estava anotado na lista de compras. Quando mencionei que era pomada de queimadura para a chefia, com a dupla Sérgio e Danilo, ouvi repetitivas gozações: “É tipo hipoglos pra comida de rabo.... Você vai precisar.” Além disso ainda cometi uma infelicidade: na farmácia, fui checar se eles vendiam o bendito Pancutan. Tudo normal exceto pelo fato de que não notei as roupas do segurança, e perguntei à autoridade. “Você pode se dirigir ao final do corredor no balcão, Senhor.” Meu primo viu e já foi contar pro Danilo. Aos risos.

Cadê o boi da janta? – Comprando aqueles presentes pra amigos perdemos a hora do rango, simplesmente quando decidimos comer não havia restaurante aberto, às 23h30. E quando estávamos de rolê tínhamos descoberto uma parrillada argentina, cujo detalhe principal era um boi empalhado no hall de entrada. E quando a fome apertou quem disse que achávamos o tal boi? Será que empalhando mesmo ele foi pro espeto? Rodamos, rodamos e quando a esperança já tinha ido, lá estava ele, no mesmo lugar. Entramos. O garçom leu o cardápio e não entendi muito, pedi pra ele mostrar, mas eles não faziam isso. Sei que veio um forno recheado de carnes, chorissos (lingüiça), frango, carne de porco. Um exagero, não comemos a metade e pagamos P$ 118. Boa comida, mas todos concordaram que pagamos demais.

Impossível não comentar de novo, para o bem e para o mal – Nos dois textos anteriores rendi comentários para o trânsito circense de Bs. As.[1] Aqui, quieto, ouvia os outros adicionarem notas. “Os motoristas não respeitam as faixas (...) é um zigue-e-zague pior que em São Paulo (...) e os taxistas são os piores.” O Sérgio Primo lembrou que quase não há motoqueiros nas ruas. Sobre veículos, é gritante o contraste de carros velhos e modernos. Só de Fiat 147 contei mais de 10. De positivo falar dos locutórios[2] que estão espalhados por toda parte. Baratíssimo ligar para o Brasil, 0,92 o minuto. Chamadas locais, 0,25. Será que algum empresário não podia copiar a idéia e trazer pra cá? Seria o máximo, pois funciona e é bem em conta.

Longe de mim – Procurava um bonequinho de gesso do maior 10 argentino de todos os tempos. Em frente a La Bombonera, numa loja boquense, tinha uma fila desses bonequinhos. Fui apontar o dedo bem próximo para ver de perto – desastre! O primeiro da fila poft no chão: quebrou! Também achei que o azarado boneco estava muito na frente. Não paguei não, nem levei nada da loja. A dona da loja não fez uma cara muito bonita também. E os dois, como sempre e com justiça, gargalharam saindo de fininho.

Achei Dieguito!, perto da rua Florida. Levei dois, um pra mim e outro pra presente. No curto caminho a pé até o hotel, o saquinho de presente de papel foi, desastrosamente, ao chão. “Deve ter quebrado”, previu o Sérgio. Nem conferi e segui viagem. No hotel, de fato um Maradona não resistiu e se partiu em dois. Nem sei se o de carne e osso fez o semanal programa La noche del Diez. Também nem dei o gostinho de dizer ao Sérgio e o Danilo. Mas certamente se houvesse um sindicato dos bonequinhos de gesso se rebelariam contra mim e pediriam severa distância com medo de extinção.

Ilha das Malvinas – Sempre me interessei por esse conflito idiota de um general lunático contra o império britânico, em 82. Morreram milhares de inocentes nas Falkland Island, como chamam os ingleses. Em Buenos Aires, pertinho de hotel há um monumento que desconhecia: um memorial aos mortos, simplesmente o nome de todos os guerreiros argentinos mortos em combate. Pra tomar conta dois guardas, com frio e sol, debruçados em espadas. Eta empreguinho! O que o peão não faz pra levar o leite das crianças de cada dia, heim?! Quis me aproximar deles pra tirar mais fotos e observar detalhes, mas meu primo ficou tirando um sarro bobo do tipo, “vai passar a mão na bunda deles, vou contar pro Danilo”. Achei muito interessante a obra localizada pertinho da estação de trem Retiro.

Persona non grata – Voltando do bairro de Nuñes (campo do River), seguimos o mapa correto até a Estação de trem de Belgrano. Na boleteria (bilheteria) a funcionária foi clara: “Quando chegar na Estação desejada diga que a boleteria está fora de serviço e peça pra comprar o bilhete [0,70] antes de sair.” Simples, achamos. Tomamos o trem acompanhados de frio. Na estação final de Retiro, nos dirigimos à catraca onde havia um guarda. Disse-lhe o que aconteceu e ia pagar a viagem. O burocrata de plantão já apontou pro cartaz que explicava o que acontece de quem não paga. “Por quê vocês não atravessaram e compraram do outro lado? Agora têm que pagar P$ 7 cada.” Argumentei que seguimos instruções da mulher que se ele quisesse ligasse e confirmasse a versão, mostrei o dinheiro dos três bilhetes, em vão: o boludo estava irredutível ou como eu e o Sergio estava com a camisa do River, ele devia ser Boca e estava complicando o rival. Nos afastamos da vista do guarda pra decidir o que faríamos, quando vimos um outro guarda. Iniciei a explicação e ele, surpreendentemente, fez “podem ir”. Assim, simples. Vontade de voltar no babaca que nos barrou e fazer uma banana pra ele, tipo “se fodeu, trouxa, passamos e sem pagar nem os P$ 0,70 cada!” Se fizéssemos isso poderíamos ser presos fora do país e extraditados. Seria a glória! A certeza é que ele ganhou o titulo do parágrafo por unanimidade.Placa argentina – Coincidentemente na mesma data do confronto porteño, jogavam no Morumbi Corinthians vs Palmeiras. Ao final do jogo do Monumental, nos apressamos em ligar pra São Paulo e ver quanto foi o clássico paulista. Com a palavra o amigo Gui. “Foi 1x1 e o Tévez fez um golaço!, levou quatro e deixou o Gamarra estirado no chão. Fora do estádio teve uma briga na estação do Metrô Tatuapé, deixou um morto e 15 feridos.” Até que enfim Carlito brilhou num clássico! Quanto ao fato triste, são as organizadas que transformam espetáculo em tragédia. Quando o escudo do time é desculpa pra agredir, matar, regredir à barbárie. Mais à noite, na terra de Tévez, vi a pintura de gol. Melhor terminar o parágrafo com a arte.

[1] Sigla de Buenos Aires.
[2] Local de acessos a Internet e ligações em que o usuário entra numa cabine, se senta e liga de olho no visor que aponta o preço parcial da chamada.

Quem é quem no fut-TAM

2000. Verbetes com uma breve descrição de algumas das figuras que peladeiam nas ensolaradas manhãs de sábado de futebol society, no Jabaquara. Descrições ora restrita às quatro linhas, ora nem tanto.
...Nélson... O “Euricão do Jabaquara” faz jus à fama: quer mandar! É ele quem bate os pênaltis... ir para o gol? De jeito nenhum... apita todos os lances sem apito, com a boca, falando (alto) mais que o homem da cobra... berra com os companheiros... e, claro, briga literalmente. “Se se concentrasse em jogar calado, jogaria mais”, entrega Santos. “Não sei perder, por isso, sou assim”, confessou. Com a bola nos pés, proteja bem a bola com boa técnica, mas é lento – uma enceradeira, mata o contra-ataque!

...Jonny... Se desavisado fosse de sua nacionalidade e o visse jogando na “lua”, apostaria: “Com essa raça, deve ser argentino.” Muita vontade. Contagia o time. Nunca vi igual. Ás vezes, exagera: bate-boca histericamente, atira o relógio no adversário. Decididamente, disputa as bolas como o último prato de comida. A toda essa garra, alia uma certa habilidade, porém, nenhuma Brastemp...

...D´Orázio... Não, isto não é nenhuma marca nova de salgadinhos Elma Chips no mercado. Muito menos antibiótico. É o sobrenome do Cláudio, dublê de poeta & canalha (poeta ele é. Embora nunca tenha lido nenhuma obra “claudiana”. E canalha também. Pois preside o CCP, clube dos canalhas e pederastas. Mas isso não tem nada a ver com a goiabada). Continuando, faço um pedido ao mesmo: “Cláudio, nada pessoal, mas devolva a bermuda de sua irmã!” Trata-se de uma peça roxa “berrantérrima”. Nada discreta. Coincidência ou não, desde que afanou a pobrezinha, seu futebol sumiu, ninguém sabe e ninguém viu! Deixando os assessórios de lado, o Cláudio até que é bonzinho. De vez em quando passa a bola. Mas só de vez em quando... Ó quem fala, digo, escreve... E mais: tem um vôleio diferente, que consiste num mix de balé em “slow motion” (Sei não...) com golpe do “Jiraya”.

...Wagninho... Sua maior virtude é uma canhota venenosa. Quando acerta... Em campo, lembra o desligado santista, Dodô: anda. E na sombra pra não cansar. O “craque auto-ajuda”, não raro diz: “Acredite no seu futebol, Costa.” Isto pode parecer simples, mas mexe com os brios.

...Lúcio... Sinônimo de ruindade. Não que ele seja de todo ruim, só que joga de cabeça baixa, como se estivesse lendo. Quem nunca interceptou um passe sem força dele? Todos. Falta vontade. Quem sabe um “Todinho” não resolveria? Briga feia (e hierárquica) é quando joga no mesmo time do chefe de setor, Bugalu. É cada bronca que se pensa que o rapaz sairá do campo sumariamente demitido.

...Raul... Técnica: ( ). Vontade total. Corre sem parar; e, se preciso for, vai dar carrinho no meio da rua (lá no hospital Sabóia); come grama sem ketchup; e doa sangue sem precisar de seringa.

......Labareda... Esforçado ele é. E como! Maldoso, não acho. Há controvérsias... Tecnicamente ele apanha da bola legal. Sem esquecer que ele é um cara boa praça, câmeraman dos bons (suponho eu), me manda vários & diários e-mails de mulher pelada (a do piercing eu vou te contar, hein...). Certa vez, resignado com as reclamações sobre sua falta de talento, desabafou no vestiário: “Não vou mais jogar aqui. Só tem craque.” Isto cortou meu coração... Que isso, Labah, não desista! Você é muito útil ao esquema: serve para marcar o “Alan”. Que Alan? O Alambrado atrás do gol. Lá, podia até quebrar um galho nosso: como a chave do nosso vestiário já perdeu umas três vezes – um transtorno –, ele seria o “homem chave” do esquema.

...Bugalu... Ele no time, significa correr dobrado, tal sua lentidão e falta de jeito com a bola. Se bem que, ultimamente, vem fazendo muitos gols, fruto de puro oportunismo. Um deles, de calcanhar, levará mil anos para produzir outro.

...Tico... Ao contrário do mano vizinho de cima, se movimenta bem, dribla muito (ainda que atabalhoadamente) e chuta forte. O que irrita nele, é que, quando sofre uma falta, trança as pernas teatralmente, insinuando que a falta foi muito mais do que de fato foi. Também é esquentadinho.

...Molina... “M7” vamos chamá-lo. É um ponta-direita robusto e estabanado. Num sábado, teve uma única chance de marcar um gol: mão na bola, conferência para saber se fora ou dentro (no caso pênalti). Fora. A infração foi passada rapidamente com manteiga, carinho e afeto para o M7. Gol? Não, ele, distraído, provavelmente pensando no fim de semana com a namorada, não esperava o passe, chutando prensado para fora. Em 10 minutos, botou as patas na bola três vezes!!! Bem que se vê que o esporte dele é outro. Vôlei, frescobol, palitinho... Em outro lance, pulou tentando interceptar a bola com as mãos, passou batido, possibilitando assim, o gol inimigo. O detalhe foi o pulo jocoso: um vôo para o alto tipo passe do cisne (bem gay!). Na entrevista, concedeu: “Aquela bola que eu atrapalhei os caras e eles fizeram o gol...!” Incrível. Só ele. Só ele...

Jornalismo capitalista do monopólio podre!

2002. Fiquei tranqüilo ao saber, através da Folha de SP, que além da paga Sport-TV (que não disponho), a Rede Globo também mostraria a final do Mundial de Vôlei. Flashes confirmavam a transmissão.

Não é preciso ser fanático por vôlei para saber o que representava esta final. Só pra lembrar:
· Único título que os brasileiros não dispõem. Já papamos as Olimpíadas de Barcelona-92, e duas Ligas Mundiais (93, 01). Vencer o Mundial seria o fecho da chamada Tríplice Coroa;
· Faz 20 anos que perdemos pra mesma Rússia e no mesmo local, o Luna Park de Buenos Aires, Argentina. A revanche.
· Revanche dupla, uma vez que em pleno Brasil, há dois meses, perdemos para os gigantes russos, na Liga Mundial.

18h30, horário do jogo, a Globo ainda mostrava a Xuxa e o Faustão. Pensei, ingenuamente, se tratar de um eventual atraso no jogo devido a disputa pelo 3° lugar. Uma hora depois, um insuficiente flash mostra que o jogo já havia começado.

Esmurrei de raiva!!! Mas como??? Ora ora, da Xuxa e do Faustão já estamos fartos!!! Ou saber da vida pessoal da Xuxa representa mais do que assistir a verdadeiros campeões??? Só aqui mesmo...

Por fazer jornalismo deduzo que muito provavelmente a Rede Globo estaria vencendo o Gugu em ibope. Então por quê arriscar com o vôlei? Esta só pode ser a única razão para o calote.

E os fãs do vôlei e do esporte que já contavam com a transmissão onde ficam?

Não ficam, que se danem!!! É como consigo interpretar o episódio.

Um absurdo!, desrespeito ao esporte, aos fãs e à inteligência de milhares de telespectadores. Um abuso de poder! Compram o evento, exclusivamente, a peso de ouro, e não mostram – e ninguém mostra também – porque não é interessante pra eles e a concorrência não tem bala na agulha pra comprar os direitos de transmissão. Egoísmo puro!

É a prova de que só futebol importa neste país. Óbvio que este esporte tem um apelo imensamente maior. Mas será que a palavra empenhada e a dimensão do evento não são suficientes?

No último set, os oportunistas com Galvão Bueno no microfone entraram. Caras de pau!!! Dias seguintes matérias e matérias sobre a impar conquista. Vontade de vomitar neles!

Enoja-me este tipo de comportamento reprovável. Eles mexem na programação ao bel prazer sem se preocupar com nada, ou SÓ se preocupando com o maldito ibope.
Sei que na segunda-feira a Folha tascou-lhe um justo “propaganda enganosa”.

Todos os amantes de esporte precisam reclamar veementemente pra que surta efeito. Eles não têm o direito de tripudiar sobre os telespectadores. Onde está o respeito?

Qual a explicação, heim, Dona Rede Globo??? Banana pra vocês!!!

Estou inconformado, é fácil ler e ver. Tenho ou não razão?

U2 – Eu fui!, eu tinha que ir

A turnê “Vertigo” do U2 soou como algo inatingível para a maioria dos fãs mortais. Caríssimo! Luxuoso! Tecnológico! E isso! Mais aquilo! Como já via presenciado os irlandeses – e duas vezes – em 97, e não havia visto os Rolling Stones, que tocaria dias antes nas areias cariocas de Copacabana, priorizei Mick Jagger e cia, e sequer cogitei comprar entradas, esnobei...
Eis que no Rio, pós-Stones, a lembrança dos hits do U2 catapultaram uma vontade avassaladora de ir. Trocaria de horário na TAM e iria pro Morumbi a espera de um milagre. Ele veio antes do que imaginava... Jonny (sempre ele?!), o amigo milagreiro...

“Zé, consegui ingresso do pai de um amigo. Não vou conseguir ir porque tenho dois empregos. Sei que quer ir, você compra?”, Jonny me animou no domingo à noite. Opa!!!!!! Sem cifras astronômicas eu compro. Lancei 150. “Te ligo amanhã ao meio dia confirmando...”
Confirmado. Era pra eu ir.

O que impressionou foi que ao dizer às pessoas que havia comprado na véspera e por 150 Reais, todos diziam “morra! Queria muito ir, estou com inveja de você” ou, com relação ao show de segunda televisionado na Globo, “foi espetacular, sem palavras!”, os adjetivos eram superlativos e os mais variados possíveis. Ir ao concerto mais querido e caro da história tupiniquim aumentava minha ansiedade.

Só faltava trocar de horário. Uma mini-batalha, mas troquei com três até conseguir sair às 19h. Iria só. Acompanhado de minha sorte, que até então foi muita! Saindo às 19h, horário de rush, precisei mais sorte. Na Bandeirantes, andando a passos de tartaruga, a questão não era sorte, sim trafego urbano, o caos. O azar não era meu; era coletivo, é de São Paulo e insolúvel. 30 minutos e respiro na Avenida Santo Amaro, daí seguir até o estádio do Morumbi, foi tranqüilo.
“Quem tiver algum ingresso sobrando eu compro!”, essa era a esperança de dezenas, diria milhares de fãs da banda de Bono. Havia, mas os preços eram de primeiro mundo: acima de 500 Reais!!! Um absurdo!!! Isso inflacionava tudo, estacionamento de frente ao estádio: 50 contos. O preço que paguei pelo ingresso de pista havia quase 10 anos. Eu já vim esperto e no primeiro estacionamento que achei, parei. No mesmo que parei num show do Rush, havia dois anos. O responsável disse que era 30, rebati “pago 20”. Paguei e caminhei 15 minutos até o Estádio.

Dentro do estádio quis localizar o Batista e o Pedro (amigos), mas não consegui, desencanei e curti o show só. Isso tava escrito. Só por isso bati tantas fotos: quase 200! Divinas. Um passeio pela apresentação dos irlandeses. A natureza me brindou uma noite de fundo negríssima, eu, com máquina, adicionei os dois líderes do U2 ao centro, Bono e The Edge, em preto e branco. Foto artisticamente linda! Vejam!

Poesia, felicidade no ar. O que não conseguia era fotografar – mas tento contar – o sentimento de 73 mil seguidores do U2, cantando e pulando. Dava pra tocar a felicidade tanto que ela saltava aos olhos. Arrepia até lembrar, escrever. Indescritível o que eles despertam. Vai além do musical. É um quê de divino, de porta-vozes de uma mensagem boa. Eu peguei. Raul Seixas passa algo semelhante.

Meu irmão Miguel pediu pra lembrar dele no clássico I still haven´t found what I am looking for. Chorei, sem vergonha alguma, a música inteira em sua homenagem. Todos nós ainda não encontramos o que estamos procurando. Ouvindo a letra, bem executada, com todos em comunhão, temos certeza que a busca – eterna e estimulante – continua. Os sonhos também. Falta mais força, inteligência e fé. E conseguiremos! ... only to be with you...

A controvérsia dos fãs da banda é o lado rock and roll anos 80 com o dançante, desde 90. Prefiro a primeira fase. Mas ainda assim respeito a mudança que muitos radicais chamam de “falta de personalidade musical”. No inicio do show a seqüência foi da era disco. Não me importei, a diversão era ver e fotografar o telão, quer dizer, os telões.

O que era aquilo, algo jamais visto no país! Um central imenso e abaulado, quatro menores nas laterais. Do lado esquerdo, onde estava, The Edge e Adam Clayton, e no outro o vocalista e Larry Mullen. No telão gigante efeitos, desenhos, mensagens, eles!

Em where the streets have no name surgiram bandeiras latino-americanas, com destaques à nossa. Bono leu o nome de alguns países, pra quê?, o simples mencionar de “Argentina” detonou decibéis de vaias. Injustas! Tudo bem que o fato de ter vínculo com uma família argentina ajudam a minha defesa, mas é de uma pobreza cultural tamanha saber que essa manifestação é um influenciada por futebol, pela rivalidade que deveria ser deixada dentro do campo, mas que é transferida para o país vizinho gratuitamente. Galvão Bueno adora aumentar a antipatia com seu ufanismo exagerado incorrigível. E quem pensa que a recíproca é verdadeira se engana: lá eles encaram normalmente, não há ódio, sim simpatia ou indiferença. “Mas Costa é ano de Copa, Morumbi é estádio de futebol, é natural vaiar argentino”, argumentou o Douglas. Concordo em parte, mas penso que países vizinhos são – ou deveriam ser – como irmãos, se xingam, saem na mão, mas sem essa raiva excessiva. Precisamos deles e precisamos crescer.

O discurso da banda é totalmente político, até extrapola. “Coexista” no telão põe lado a lado judeus, católicos e cristãos. Mensagem dos direitos humanos com letras em português, logotipo da luta contra a pobreza mundial. É como se assumisse, pela importância que têm, um papel no mundo. Isso é nobre, não querem só entretenimento, sim formar opinião. Bono Vox? Vai ter carisma assim lá em Belfast?!

Em 97, na ultra dançante mysterious way, Bono chamou uma mina no palco. Outra em with or without you, formou com outra garota um parzinho romântico, deitadinhos. Tudo lindo. Ocorre que no ar já se criou uma expectativa de “quem seria a cinderela escolhida de 2006”. Na segunda, a escolhida roubou um selinho do Gringo. Dia seguinte teve 20 mil scraps no orkut, e fiquei sabendo que estava cobrando R$ 4000 por entrevista. Virou negócio. E mais: ela é noiva. Deixou um chifrudo feliz, pois deve ter dito aos amigos “com o Bono pode”. Terça, o destaque foi uma garota que com uma faixa “let me up”, foi atendida: subiu, e ainda exigiu: “Meu nome é Desirè, toque essa música”. Um trocadilho, pois ela queria a canção Desire, que não estava no set list. Bono pediu ao guitarrista que disparou os acordes.

O set list deles me agradou cheio, pois se eles tocaram metade das puntz puntz que não conheço, também rechearam o repertorio de clássicos: o hino Sunday bloody sunday com bateria inconfundível, desse cd também New years day. O orgulho em nome do amor com pride in the name of love, One com todas as formas idiomáticas de se escrever “um” e uma pomba no telão.

Lembro da época em que lia o nome da banda “U-dois”, desconhecendo o idioma ianque, também da fita k7 que minha prima comprou pra minha irmã, chamava-se boy, sucesso deles. Principalmente cresci numa geração que profetizava “quando U2 vier eu vou”. Sinto-me realizado, de quatro shows da – talvez – banda mais marcante de 80 para cá, presenciei três, cumpri a promessa até com certo egoísmo. Um privilégio. Um presente de DEUS, sobretudo força pra encontrar o que estou procurando. De fato, eu tinha que ir.

PS: aos que não foram eu mando fotos e texto. Aqui vou ser xingado!

Boca Júniors vs River Plate em La Bombonera

Acordamos tarde, de novo! O galo dessa cidade só pode ser retardado...rs. Adiantamos os preparativos para o encontro entre Bosteros vs Galiñas. O país respirava fútbol nesse domingo. Na tábua de classificação, o gigante Boca se encontrava na metade de baixo; e o também forte River Plate, estava rodeando o quarto posto. Ambos aquém da fama e jogadores que possuem. Mas para o choque dessa tarde, tudo claramente é esquecido, dane-se que ambos não aspiram mais nada – é o único jogo, em La Bombonera, do ano. Diferente de Corinthians x Palmeiras que chegam a jogar cinco, seis vezes ao ano, tirando um pouco do brilho do clássico paulista. Então é como se além do torneio do primeiro semestre – clausura – estivesse em disputa um campeonato a parte: o superclássico Boca Júniors versus River Plate. O estádio denunciaria isso: 57 mil assentos tomados. O Pablo, recepcionista do hotel e torcedor do Ríver, nos deu alguns toques sobre o que levar e como se porta o hincha (torcedor) de futebol argentino: “Já que vão ficar nas populares, não levem nada de valor. Principalmente máquinas digitais. Pois as pessoas que freqüentam esses locais são drogados e bêbados, e quando notam que há turista entre eles roubam com a conivência da policia. Naquele setor quem manda é a Barra Brava.” Terrorismo foi pouco! A prudência dizia pra deixar máquinas digitais no hotel, como fizeram o Giuliano e Cróbis. Arrisquei juntamente com o Maffei. O esquecimento foi de não levar o palm para gravar o som ambiente da torcida. Lamento isso até agora. Tão logo tombamos dos táxis, o Dirceu exibiu orgulhoso os ingressos dele e do Gordela: “Paguei só P$ 40 cada, e se tivesse chorado mais 15 minutos, teríamos pago 30. E vocês pagaram 100.” É verdade. Porém, eu particularmente paguei e não me arrependi, pois foi bem melhor ter dormido com o ingresso na mão do que com a real possibilidade de não assistir ao jogo – chamariz da viagem. Seria frustrante. Ainda que o Dirceu tenha feito o negócio da China, pra mim foi bem-pago e não se fala mais nisso!

Passamos na revista policial. Tiramos uma foto com um torcedor símbolo do Boca. Maffei aproveitou pra trocar um peso pela cara pintada com as cores do time da casa. Confesso que estava com medo de inserir o ingresso na catraca, já pensou se é falso? Eu faço nas calças e o Maffei infarta. Passamos, ufa! O alivio do ano até agora. Quem ficou pra trás foi o Tiago – um tinha que dar zica. Mas rapidamente se resolveu e ele se ajuntou a nós. O jogo começaria às 15h (cedo, hein) e chegamos por volta das 14h. Querer demais se colocar num bom local pra assistir: nos dividimos em três blocos. Os que desceram mais: Maffei e Val; eu, solo, que desci até certo ponto, mas seria ruim descer mais, até porque a vista estava satisfatório; e o Cróbis, Figueira, Tiago. Lembrando que Dirceu & Gordela estavam detrás do outro gol. Timidamente e olhando o naipe dos torcedores ao redor de onde estava, fui disparando os primeiros flahs. Não vi nada que me amedrontasse e, ter levado a maquina se revelou um acerto. As primeiras manifestações, ainda na preliminar dos juniores de Boca 1 x 3 Ríver, arrepiaram. Músicas cantadas com muito ritmo e emoção. Inevitável comparar com nossa forma de torcer – e eles estão degraus acima. Mais criatividade, sobretudo. Muitas músicas, até pra zoar o ex-Bambi Amelli. No Brasil, o “Sou Brasileiro com muito orgulho e muito amor” também pode ser “corintiano”, “atleticano” ou “piracicabano”. Muita mesmice, sempre achei isso. E olha que deve ter músicos dentro das organizadas. Xingo tem, obviamente, de monte: o preferido é la concha de la madre, a do juiz dos jogadores do River eram as preferidas. E quanto a incentivar ao tempo todo? Onde estávamos não era assim. Já do outro lado a “12” cantou até no gol do River. Não creio que o argentino goste de futebol mais que o brasileiro mas ele o expressa com mais vontade e passividade. No campo isso se traduz na velha raça argentina tão destoante da nossa.

Si quieren ver fista, vengan a La 12, porque esta es la hinchada más loca que hay (...) Dois personagens que analisei nas arquibancadas: um jovem que cantou todas as músicas da hinchada (torcida) – comoventemente – sem parar, sem perder ritmo ou voz. (...) Com bombos trompetas, todas sus banderas (...) Passou de mil as vezes em que dizia para si mesmo e em voz alta “te amo muito Boca” – e beijava o escudo incessantemente com ardor. Escudo e La Bombonera, para ele são símbolos sagrados do clube. Isso quando se aventam a possibilidade de construir outro estádio para comportar a grande massa do clube, que fica de fora devido ao limite de capacidade de publico. “Não, nunca!” (...) Todos los Borrachos, se quieren matar. Outro menininho (6 ou 7 anos) sentado numa grade, mostrava com um brilho nos olhos o seu sentimento incondicional pelo time, xingando, cantando e fazendo parte – desde muito cedo – do inconsciente coletivo que é torcer por uma grande equipe. Muito lindo de se ver!

Tinha uma missão como corintiano: observar se Javier Mascherano, 21 anos, volante do River Plate e seleção argentina, vale mesmo os US$ 15 milhões. Estabelecer justiça entre valores e qualidade técnica de jogadores é algo complexo: Denílson custou US$ 31 mi, Tévez 22 e outras fábulas mundo afora. Quanto ao Jefecito (apelido do craque devido à sua autoridade em campo), marcou, discutiu com o Amelli, distribuiu o jogo com eficiência e passes precisos, driblou até a linha lateral e cruzou, bateu (duas entradas que tive dó do boquense), enfim, foi o melhor do time derrotado segundo os três jornais que li. – um leão que já deixa saudades nos seguidores do time de Nunes – Média 7,2. No parágrafo abaixo seguem as médias dos destaques nos jornais Clarin, La Nación e Olé.

Já dentro das quatro linhas: o River pressionou, pressionou e levou o gol do veterano Guilhermo Schellotto (32 anos e média 6,5), aos 13 do primeiro tempo. “Guidgê, Guidgê”. Gritaram ensandecidos os hinchas para o craque, agora ídolo maior após a saída de Carlito Tévez para o Corinthians. De quem muito esperava era de Gallardo, meia do River, dotado de uma habilidade fantástica na canhota. Pouco fez e só ciscou (5,66). Quem parou o meia rojo & blanco foi um jovem de 20 anos, Gago (6,83). O River empatou no inicio do segundo tempo, Lucho Gonzáles, aos 36. O grande destaque do jogo foi, sem dúvida, o arqueiro Pato Abbondanzieri. Com pelo menos duas defesas (ambas a queima-roupa) justificou a condição de titular no arco argentino: média 9!!! Sinceramente não fosse um detalhe o tradicional e glamouroso superclássico teria terminado melancolicamente empatado, a meu ver. O detalhe, como disse uma vez Parreira, foi o gol. E que gol... 36 minutos da etapa derradeira. Marcelo Delgado, 30 anos, reserva de luxo, entrou aos 16 do 2º e bateu uma falta colocada, com efeito, longe de Constanzo. “Cuántos dedos le metistes?”, manchete do porteño Diário Olé. Loucura em todo cenário, todos se abraçaram com explosão máxima! Sentado no chão, o goleiro do River vê, desolado e com cara de bundão, o mar azul e amarelo comemorar. Ele se colocou mal pra caramba. No gol minha falta de azar foi brutal: estava gravando tudinho na câmera digital.... Delgado ajeitando a bola... Constanzo orientando a barreira, aí ele dá um passo e acabou... ódio, ódio! Deu memória insuficiente. Por menos de 5 segundos perdi de guardar a trajetória da bola à rede e a torcida enlouquecer por toda La Bombonera. O Murphy não gosta mesmo de mim, ele e suas leis idiotas.

BOCA JÚNIORS 2 x 1 RIVER PLATE. A torcida embalava o time rumo à vitória. De repente, Pallermo (aquele que perdeu três pênaltis em um jogo de Copa América, anos atrás) dá um passe de letra, em seguida, faz um gesto com as mãos pedindo que a torcida, já enlouquecida, se levantasse e urrasse em êxtase. La Bombonera tremeu e quase veio abaixo. Na conclusão do lance a bola foi tirada de bicicleta, com o bico da chuteira do defensor batendo no rosto do jogador. O caldeirão fervia, o atleta do Boca se machucou com a firula de Pallermo, as bolas sumiram e la hinchada só cantava. E continuou cantando na saída do estádio, nas ruas, carros e ônibus. Ainda coincidiu do ônibus do Boca passar e a galera fazer o maior auê. O Figueira atentou-se para a falta dos cavalos da PM que nas cercanias do Morumbi transita com gambés descendo o porrete. Afinal torcedor em São Paulo é tratado como gado.

Final Feliz para o superclássico. Torci para o Boca, claro! E vou torcer para os Galiñas argentinos? Espécie de bambis locais (não à toa que também amarelaram perante a um time de raça e torcida), clube de maioria da elite porteña, los milionários, é outro apelido. Outra canção chiclete entoada foi essa, que acredito, dispensa tradução: “Boca no tiene marido. Boca no tiene mujer. Pero tiene um hijo bobo. Que se llama River Plate.” Risos... Hilário também uma música que tem num cd do Boca, com fundo de pios de galinhas, tudo para zoar as frangas de Bs.As. Elas ficaram no anel superior acima de onde ficamos, cerca de cinco mil apenas. Pra falar a verdade nem as vi, e vi que jogaram mijo em nós. Uns fedidos. Um deles mijou em direção a torcida xeneize com o bilau para fora. Um boquense fez um sinal com os dedos de “que pipiu pequeninho, maricón”. No hotel, o funcionário Pablo (aquele que fez terrorismo sobre as máquinas digitais e torcedor do River) me serviu sorrindo e dizendo: “Por favor, nada de futebol hoje.” Acho que incorporei a raiva sadia a eles. Já até achei um torcedor próximo para gozar: o Mauro, argentino que mora no Brasil e é chefe do Sérgio, meu primo. Dia seguinte, vendo meu primo conectado no MSN, já iniciei os “chupa Galiñas, chupa Mauro”. E nem conheço o argentino direito, só falei com ele por telefone. Daí a pouco o próprio Mauro sentou no lugar do Sérgio e rebateu: “Seus bosteros de mierda, tengo azco de vocês. Bolivianos y paraguayos!” Misturando português e espanhol ele xingou, e aludiu ao slogan boquense de torcida “metade mais um” que, segundo os riveristas, esse “mais um” são bolivianos e paraguaios que são tratados preconceituosamente. Assim como dizem que para os corintianos torcem muitos baianos etc.

Ao menos um torcedor do Boca não terá motivos para comemorar esse superclássico. Quando acabou o jogo ficamos conversando com os torcedores próximos que se interessaram por saber sobre os brasileños. O Cróbis contou que pagou P$ 100 de um cambista. O rapaz se interessou em ver o ingresso, em seguida, questionou se poderia trocar o ingresso vendido – ilicitamente – pelo do torcedor sócio, pois através do número que continha na entrada poderia denunciar o infrator. O Maffei e Figueira também trocaram. O Cróbis não perdoou e disse em tom triunfal: “Ao menos um argentino nós fodemos.”

Frase do Maffei: “Assisti Boca vs River, posso morrer em paz.”

Confraternização entre brasileiro e argentinos

Maio de 2005. Fim de jogo... Todos exaustos. Percebi um clima geral de “não quero churrasco, quero hotel, depois balada”. O catzo, já tá marcado desde o mês passado, não fazer será desfeita com meu irmão argentino, nem que seja para ficar um hora temos que ir. Até aconselhei Figueira, com dor de cabeça, pra fechar um trio para rachar um táxi, mas ninguém fez isso. Foi só atravessar a rua e estávamos no shopping Unicenter para as compras. Carne, bebidas, limão verde (não amarelo) etc. Uma “Velho Barreira” custa astronômicos P$ 24 aqui. Trouxeram outra pinga, por supuesto.

Calle Jose Ingenieros, 1636, barrio de La Lucilla, aqui se deu a integração Brasil e Argentina. Não houve bairrismo, preconceitos etc, só celebração, amizade. Os irmãos Osés se encarregaram da carne. Usavam os jornais para esquentar a carne, porém, demorou. O Gordela até insinuou que eles estivessem lendo o jornal frente-e-verso... capaz? O Dirceu já pegou os limões e foi pras caiporas. O primeiro jarro ficou mais que gostoso – ficou nobre! Perguntei para Lucrecia (irmã do Esteban) se ela curtiu: “Muito! Se tomar a terceira dose acho que vou me transformar?!” Então dá-lhe caipirinha na maninha! Acaso ela ficasse de fuego procuraríamos um matafuego (instintor de incêndio, acredite, em espanhol)... Os convidados iam chegando. Os do jogo: Juan River, Ezequiel, mais outros dois irmãos, dois casais, a namorada do Estebán e a Milagros. A mina do Estê disse que fez curso de português e entendia um “pouquinho” e apontou para Milagros, noiva do Adrian (melhor amigo do Estê e que está em Miami e isso não importa muito ou nada). Essa muchacha morou seis anos no Brasil, fala um português fluentíssimo. De inicio a achei fresca, sem querer falar nada com ninguém, tipo “não estou aqui”. Enganei-me, felizmente. E não dá para negar: não fosse o fato de ela ser comprometida ia ser alvejada fácil. O Cróbis comentou: “Cada dose de qualquer coisa, o nariz da ‘Gepeta’ diminuía três centímetros e ela se torna mais linda!!!” E trouxe um cedê de música tupiniquim. Do nada um “você é luz, é raio estrela e luar, manhã de sol, meu iá iá meu iô iô, você é assim e nunca meu não, quando estou louca me beija na boca e me ama no chão”, Wando aqui em Buenos Aires?! Eu, Cróvis e Figo dançamos esse clássico brega, abraçados – enlouquecidos – e com copos na mão. Mereceu. E nisso todos – sem exceção – já tinham entrado no clima de descontração e saudável bebedeira ao topo. Em pensar que horas antes havia um nítido clima de “ir, quase, por obrigação”... Até a cachorra (uma dobermann “preta-Graffite”) da casa que deve ter – praticamente – tomado uma caipirinha, muito da escondida, claro. Mas coitada, era sempre expulsa do recinto pelos donos. Coube a Milagros – e sempre ela, nossa musa – pegar a cadelinha e fazer uns afagos ante uns invejosos paulistas. O ápice da conquista foi a bela rúbia fazer caipirinha. Não, definitivamente não!, argentina fazendo caipirinha brasileira em Buenos Aires mereceu um sonoro e emocionado “puta que pariu a Milagros é a Rainha do Brasil”, ela desacreditou. Nem só ela brilhou, estaria sendo injusto, orra meu: e nosso samba exportação? Não trouxemos os instrumentos, mas Valéria, de comissão de frente, piercing e tudo não afinou aos pedidos de “samba Valéria, SAMBA” ao som de “sou Gaviões levanta a taça, com muito orgulho pra delírio da Fiel”, requebrou bonito e arrancou baba de muitos amantes de tango. Mal sabem eles que ela dormiu com camisola de ursos... O único que se deu bem no quesito “pegação” foi o Tiago: pegou a Lu, muito provavelmente “transformada” pela afrodisíaca bebida brasileira. O irmão brincou, dia seguinte, que o Bambi – são-paulino – estava com sono. “Ele tava dormindo no ombro da Lucrecia”, riu Estebán. Ainda não havia visto seu Carlos e dona Lílian, pais do Estebán – extremamente simpáticos!, quando eles chegaram tarde da madrugada eu estava – demasiado alegre – o Estê me levou até eles pra cumprimentá-los. Só lembro que dizia que estava muito feliz e que essa era minha família argentina. Nos abraçamos e nos despedimos. Dona Lili foi ainda dar um holá para os outros e seu Carlos foi dormir. Essa cena me deixou bastante contente. Vir aqui e não cumprimentá-los ficaria algo incompleto. Fomos embora por volta das duas da madrugada. Mais meia dúzia de limões, meia hora e meio grau centígrado mais quente, neguinho e branquinho ia dar um tibum na piscina da família Osés, ah ía – petrificados, mas felizes! Eu não queria ir embora. O que quero hoje, de fato, é voltar, ao mesmo lugar, com as mesmas pessoas – só pediria, se não fosse muito, mais chicas, claro – e mais cervejas e limões pra caipirinha. Se todos pensaram como eu, certamente 2006 haverá outro salo. O convite já está posto. Quem tá feito de convites é o Estebán, pode escolher entre pelo menos quatro casas quando vier para São Paulo.

Os brasileiros que foram com a gente admitiram o preconceito sobre os argentinos. A grande maioria pensa que eles são folgados e outros estereótipos. A grande verdade é que o brasileiro é bem mais preconceituoso que o argentino, eles não estão nem aí. Ao serem bem tratados viram que não passam de mitos essas bobagens. Como dizer algo sobre a hermana Lucrecia, uma das pessoas mais humildes que já conheci? A boa vontade do Estebán que se prontificou a ir do seu bairro até o centro (1 hora de ônibus), sem carro, frio e de noite, duas vezes. Isso porque não conheceram seu Carlos e dona Lílian. Ri da ingenuidade deles ao julgar assim sem conhecer de perto. E por quê? Futebol... Mas lição é lição, e é pra se aprendida, como declarou a Val: “Fiquei com vergonha de mim mesma porque fomos muito bem recebidos.”

E como se comunicava esse povo todo? Maffei, o único são entre mais de duas dezenas de almas borrachas, por conta disso se empolgou e emplacou pérolas que dariam um rio de ostras. Lamentou um qualquer coisa com um “que AÇAR”?? Azar foi o nosso de ter ouvido essa... No calor dos papos de futebol confidenciou: “Robinho siempre ‘fôdiôu’ o Corinthians?!” De onde nasceu o coro “fuera Mafuei, fuera Mafuei!” Ficou. E ganhou a noite quando o Ezequiel, de uma gentileza mentirosa, elogiou o Poliglota do Morumbi. “Seu espanhol é muito bom!” Pronto, ele lavou a alma, encheu o peito e se virando a todos, comemorava esfuziante: “Tá vendo! Tá vendo! Ficam falando de mim, ó!” A Val também passou das medidas: “é mucho menos menor”. Dirceu confundiu os latinos e nos chamou de “brasiliano”.

Da outra vez sabe que não vi nada demais na porteña. Dessa, toda vez que o Cróbis via uma chica preciosa, ele não se conformava e soltava um “vai tomar no meu c.!” Ele tinha razão e meu conceito sobre a argentina variou da água pro vinho. E começou cedinho, assim que passamos pela imigração já apareceu uma rúbia tremenda; do lado de fora do aeroporto, embarcou num ônibus antes do nosso, uma exótica charmosíssima. Desfile delas também no bairro da Recoleta e no shopping center. Uma o Cróbis só não pediu fotos porque demorei a achar a máquina. No churrasco a Milagros deu dicas sobre como paquerar por aqui. “Se quiser elogiá-las, chamem-nas de flacas (magras).” Reconheceu que elas, comparadas com as brasileiras, são bem frescas. Um detalhe pra evitar mancadas: “pt” – perda total –, que usamos pra dizer que alguém está sem condições – o Giuliano, por exemplo – aqui é o correspondente ao blow job. O Carlie deu outro toque: “Não espere que ela venha até você. Aqui raramente acontece isso. Você é que tem que dar a cantada.” No Brasil a caça feminina é comum e chega a ser descarada.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

I Brasil vs Argentina que eu joguei

Maio de 2005, Buenos Aires. Chegamos atrasados. Tempo de se trocar e entrar em campo. Frio siberiano pra jogar bola. Cumprimentei o Carlie, irmão do Estebán (amigo argentino) e os outros. Tirei uma foto com os dois irmãos sob protestos do Estebán: “Só depois do jogo, agora somos rivais.” Quando rolou a pelota procurei o ar. O primeiro gol foi uma pérola, ninguém entendeu. Os argentinos, muito menos. Eles nem comemoraram. Gordela, sozinho no arco, com a perna esquerda, à direita da trave esquerda, rola a bola mansamente para o gol espírita – ?!? – 1x0 para os porteños. O empata canarinho aconteceu numa combinação em que a bola sobrou limpa pra Cróbis, camisa de Tévez às costas, completar para o gol vazio. Desempatei com a colaboração do goleiro, o chute não saiu muito forte. Los hermanitos viraram para 3x2. Figueira, ao ver os rivais fazendo linha de passe no nosso terreiro, bradou: “Vocês vão deixar eles fazerem isso aqui? Eles estão adorando!” Um dos momentos chaves da partida foi quando o Cróbis levou uma bolada nos zóios e teve que sair. Maffei, o substituto, marcando, comprometeu devido ao seu tamanho e peso. No gol, ele deu a chamada ponte numa bomba adversária, pena que ninguém fotografou. A Val não conseguiu operar minha máquina. Outra do Gordito foi um arremate aos céus que derrubou pombas e, quase, acabou nossa brincadeira. Carlie, de spiderman, trepou na cerca e trouxa a bola a la cancha. Voltando ao jogo: a igualdade veio da defesa para o campo adversário. Giuliano Galeano, verde de raiva, de longe soltou um esquerdaço no ângulo...zooommm! Uma bala, até agora o goleiro está calculando a força da bola para pensar em ir ao inalcançável – inútil. Tão forte também foi meu grito de “golllllllllllllllllllllllaaaaaaaaaççççççoooooooooooooooooooooooooooooooo!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!” Os argentinos, fazendo se valer do fator casa, se impuseram e pularam a frente do placar, decretando um justo Argentina 5x3 Brasil. Na verdade seriam seis, se não fosse pela bondade alheia e do nosso goleiro: o Gordela fez um pênalti descarado, o atacante até esboçou um tímido “penal”, mas eles deixaram quietos; a peleja já estava ganha.

Na sessão “caça às bruxas”, elejo o Maffei: não levou nosso talismã, 10º elemento, o Muxiba. Pelo que eu conheci do Pelúcia, aposto que ficou no hotel torcendo: “Não me levaram, tomara que percam! Me chama de ‘meu amigo’, aquele gordo traidor! E se roncar de noite, vai dormir no box do banheiro?!” Perdemos, Maffei, culpa sua! Mas não é o único: o Dirceu também, treinador uma ova!, ficou bebendo e ainda acha bonito. Declarou ainda a este repórter: “Eu só vi um gol do Gordela contra e outro do Costa. O resto do tempo eu estava bebendo. Quanto foi o jogo mesmo?” Que instruções táticas ele deu? Ele me mandou – vê se pode – cortar o cabelo?! E por fim do roll dos acusados à guilhotina – EU – oras! O vagabundo fofoqueiro do meu amigo argentino trouxe uma foto minha do século passado – nem lembrava mais! –, trajando a camisa azul & branca deles... e pra explicar para os meus colegas que foi uma aposta que fiz e perdi, pra tirar a foto com a camisa argentina tive que comprar um tênis da loja e bibibi... O passado me condenou: pensam que me vendi para do lado de cá. A dona Valéria também tem culpa no cartório, pois o território era deles, mas a torcida – ela – é nossa, mas amarelou?! Se bem que a camisa amarela dela estava comigo (emprestada), e ela ainda reclamou, ao final do jogo, que estava fedida. Só se for o nariz dela! Sou pobre, mas sou limpinho!

Conclusões, personagens e lances... Sinceramente o idioma espanhol dos caras, jogando futebol, mais parece um dialeto. Até a mais simples pelota soa grego aos nossos ouvidos. Festival de firulas: Clóvis Frodo Bolseiro distribuiu um bonito sombrero no Daniel, “Prêmio Olé” pra ele. Foi o troco, pois esse mesmo líbero me aplicou um rolinho de frente, na ponta direita. Vexatório! O drible mais desconcertante de minha carreira, mas enfim acontece – sem prêmio então. O Figueira exaltou inclusive: “Caralho, Costa, deixou o cara fazer isso?!” O paga pau só faltou parar o jogo para cumprimentá-lo. Pelo que entendo de futebol, captei que os locais são mais táticos e apresentaram maior entrosamento. Já a gente, esbanjou mais técnica e arte, mas nem adiantou nos concentrarmos no hotel, pois o entrosamento foi quase nulo. A tabela da dupla de quarto e ataque C & C – Cróbis & Costa – ficou pra Fortaleza: local da revanche... e ao meio dia que quero ver argentino suar. Agora o destaque foi o excesso de cavalheirismo – o que foi aquilo se tratando de brazucas & argentos?! Muito limpo, quase não teve falta. Numa que não foi e a bola saiu para lateral, o Daniel quis dar falta pra gente. Recusei. Tanto fair play que até irritou, mas sinceramente o espírito do jogo fez o resultado parecer desimportante. Ao menos pra mim. Abaixo notas individuais.

O “Prêmio Cavallo” para o melhor no *pasto (?) foi para o palmeirense Giuliano, autor de um golaço – só um cavalo pra dar tal patada – e de uma atuação firme. Curiosamente ele foi o último a dar notas e se diminuiu: lhe deu uma nota 6, sua pior nota, mais de 1, 5 a menos que sua média, 7,57. Em seguida, juntinhos Cróbis e Figueira: 7,43. Eu venho logo a seguir, 6,93: dei trabalho, estava levando vantagem sobre a zaga, mas o arremate caia ora na esquerda, ora acertava a trave (uma vez). Também prendi a bola em excesso, reconheço e fui repreendido.