quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

Buenozarianas - novembro 2005

O mesmo filme – Dentro dos táxis, sempre se levantava a bola inevitável e preferida de brasileiros e argentinos – quem é melhor Diego ou Édson? Maradona ou Pelé? Os taxistas devem ter feito um curso em que se algum turista brasileiro perguntasse a eles sacavam um texto pronto de: “Bueno, Pelé tinha ao seu lado Gérson, Garrincha, Didi, Rivelino, Tostão etc. Era fácil jogar. E Maradona jogava solo, em Seleção Argentina e Napoli. São dois tipos e tempos distintos e blábláblá. Cada um foi melhor ao seu tempo.” Quando o terceiro taxista disparou a ladainha, olhei pra cara do Danilo em que se lia “de novo, eles só falam isso.”

Cerveja ou comes com cartão postal – Devo ter comido um cheese qualquer coisa abençoado pelos braços abertos do Cristo Carioca; na Chapada dos Guimarães o forninho de mesa aquecia uma picanha enquanto os olhos eram refrescados por uma cachoeira, também divina; do Big Ben Londrino acertei a hora e não tive nenhuma refeição, tomei foi um susto com um ônibus passando rente à calçada; debaixo da saia da Torre Eiffel, em Paris, não lembro o que comi, mas um salgadinho que seja devo ter mastigado; patrioticamente e sem ir muito longe – de metrô até –, em São Paulo, na famosa Avenida Paulista, quem não tomou um cerveja proseando naquelas lanchonetes em frente ao MASP? Toda essa volta para ilustrar que a combinação gastronômica com postcard de minhas andanças ganhou mais um membro: sentamos do lado de fora de um café porteño, pedimos quilmes acompanhado de tira gostos de olho no Monumento Obelisco, situado na vasta avenida 9 de júlio. Está clicado mais um.
Pro segurança não! – Desde a outra vinda pra Argentina a supervisora Martini me cobra uma pomada que só vende lá. Esqueci. Pois dessa estava anotado na lista de compras. Quando mencionei que era pomada de queimadura para a chefia, com a dupla Sérgio e Danilo, ouvi repetitivas gozações: “É tipo hipoglos pra comida de rabo.... Você vai precisar.” Além disso ainda cometi uma infelicidade: na farmácia, fui checar se eles vendiam o bendito Pancutan. Tudo normal exceto pelo fato de que não notei as roupas do segurança, e perguntei à autoridade. “Você pode se dirigir ao final do corredor no balcão, Senhor.” Meu primo viu e já foi contar pro Danilo. Aos risos.

Cadê o boi da janta? – Comprando aqueles presentes pra amigos perdemos a hora do rango, simplesmente quando decidimos comer não havia restaurante aberto, às 23h30. E quando estávamos de rolê tínhamos descoberto uma parrillada argentina, cujo detalhe principal era um boi empalhado no hall de entrada. E quando a fome apertou quem disse que achávamos o tal boi? Será que empalhando mesmo ele foi pro espeto? Rodamos, rodamos e quando a esperança já tinha ido, lá estava ele, no mesmo lugar. Entramos. O garçom leu o cardápio e não entendi muito, pedi pra ele mostrar, mas eles não faziam isso. Sei que veio um forno recheado de carnes, chorissos (lingüiça), frango, carne de porco. Um exagero, não comemos a metade e pagamos P$ 118. Boa comida, mas todos concordaram que pagamos demais.

Impossível não comentar de novo, para o bem e para o mal – Nos dois textos anteriores rendi comentários para o trânsito circense de Bs. As.[1] Aqui, quieto, ouvia os outros adicionarem notas. “Os motoristas não respeitam as faixas (...) é um zigue-e-zague pior que em São Paulo (...) e os taxistas são os piores.” O Sérgio Primo lembrou que quase não há motoqueiros nas ruas. Sobre veículos, é gritante o contraste de carros velhos e modernos. Só de Fiat 147 contei mais de 10. De positivo falar dos locutórios[2] que estão espalhados por toda parte. Baratíssimo ligar para o Brasil, 0,92 o minuto. Chamadas locais, 0,25. Será que algum empresário não podia copiar a idéia e trazer pra cá? Seria o máximo, pois funciona e é bem em conta.

Longe de mim – Procurava um bonequinho de gesso do maior 10 argentino de todos os tempos. Em frente a La Bombonera, numa loja boquense, tinha uma fila desses bonequinhos. Fui apontar o dedo bem próximo para ver de perto – desastre! O primeiro da fila poft no chão: quebrou! Também achei que o azarado boneco estava muito na frente. Não paguei não, nem levei nada da loja. A dona da loja não fez uma cara muito bonita também. E os dois, como sempre e com justiça, gargalharam saindo de fininho.

Achei Dieguito!, perto da rua Florida. Levei dois, um pra mim e outro pra presente. No curto caminho a pé até o hotel, o saquinho de presente de papel foi, desastrosamente, ao chão. “Deve ter quebrado”, previu o Sérgio. Nem conferi e segui viagem. No hotel, de fato um Maradona não resistiu e se partiu em dois. Nem sei se o de carne e osso fez o semanal programa La noche del Diez. Também nem dei o gostinho de dizer ao Sérgio e o Danilo. Mas certamente se houvesse um sindicato dos bonequinhos de gesso se rebelariam contra mim e pediriam severa distância com medo de extinção.

Ilha das Malvinas – Sempre me interessei por esse conflito idiota de um general lunático contra o império britânico, em 82. Morreram milhares de inocentes nas Falkland Island, como chamam os ingleses. Em Buenos Aires, pertinho de hotel há um monumento que desconhecia: um memorial aos mortos, simplesmente o nome de todos os guerreiros argentinos mortos em combate. Pra tomar conta dois guardas, com frio e sol, debruçados em espadas. Eta empreguinho! O que o peão não faz pra levar o leite das crianças de cada dia, heim?! Quis me aproximar deles pra tirar mais fotos e observar detalhes, mas meu primo ficou tirando um sarro bobo do tipo, “vai passar a mão na bunda deles, vou contar pro Danilo”. Achei muito interessante a obra localizada pertinho da estação de trem Retiro.

Persona non grata – Voltando do bairro de Nuñes (campo do River), seguimos o mapa correto até a Estação de trem de Belgrano. Na boleteria (bilheteria) a funcionária foi clara: “Quando chegar na Estação desejada diga que a boleteria está fora de serviço e peça pra comprar o bilhete [0,70] antes de sair.” Simples, achamos. Tomamos o trem acompanhados de frio. Na estação final de Retiro, nos dirigimos à catraca onde havia um guarda. Disse-lhe o que aconteceu e ia pagar a viagem. O burocrata de plantão já apontou pro cartaz que explicava o que acontece de quem não paga. “Por quê vocês não atravessaram e compraram do outro lado? Agora têm que pagar P$ 7 cada.” Argumentei que seguimos instruções da mulher que se ele quisesse ligasse e confirmasse a versão, mostrei o dinheiro dos três bilhetes, em vão: o boludo estava irredutível ou como eu e o Sergio estava com a camisa do River, ele devia ser Boca e estava complicando o rival. Nos afastamos da vista do guarda pra decidir o que faríamos, quando vimos um outro guarda. Iniciei a explicação e ele, surpreendentemente, fez “podem ir”. Assim, simples. Vontade de voltar no babaca que nos barrou e fazer uma banana pra ele, tipo “se fodeu, trouxa, passamos e sem pagar nem os P$ 0,70 cada!” Se fizéssemos isso poderíamos ser presos fora do país e extraditados. Seria a glória! A certeza é que ele ganhou o titulo do parágrafo por unanimidade.Placa argentina – Coincidentemente na mesma data do confronto porteño, jogavam no Morumbi Corinthians vs Palmeiras. Ao final do jogo do Monumental, nos apressamos em ligar pra São Paulo e ver quanto foi o clássico paulista. Com a palavra o amigo Gui. “Foi 1x1 e o Tévez fez um golaço!, levou quatro e deixou o Gamarra estirado no chão. Fora do estádio teve uma briga na estação do Metrô Tatuapé, deixou um morto e 15 feridos.” Até que enfim Carlito brilhou num clássico! Quanto ao fato triste, são as organizadas que transformam espetáculo em tragédia. Quando o escudo do time é desculpa pra agredir, matar, regredir à barbárie. Mais à noite, na terra de Tévez, vi a pintura de gol. Melhor terminar o parágrafo com a arte.

[1] Sigla de Buenos Aires.
[2] Local de acessos a Internet e ligações em que o usuário entra numa cabine, se senta e liga de olho no visor que aponta o preço parcial da chamada.

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