terça-feira, 18 de dezembro de 2007

Metodista

Onde estudei jornalismo. Escolhi esse curso devido à aptidão por letras e textos, já devem ter notado. À tarde, fora os meus colegas de classe, não conheço nenhuma alma que estude neste período. Lembro do processo seletivo: estava havia sete anos sem estudar; e pro vestibular fui vagal. Tudo indicava que levaria pau. No dia, estava tranquilíssimo. Cravei 65% de aproveitamento. Gostei da minha performance independente de qualquer coisa. Pensei que estaria dentro. Outra surpresa: não fui nem na primeira nem na segunda chamada. Desanimei. Fui na terceira e reagi indiferentemente à noticia. Se fosse na primeira soltaria fogos e pagaria cerveja. Uma história do dia do vestibular: uma gostosíssima sentada, com um belo par de pernas e cruzadas aos meus olhos. Tirou-me da órbita por alguns segundos... Deve ser tática, um “jogo sujo” que desestabiliza os possíveis competidores e deveria ser proibido pelos órgãos competentes. Repito, no entanto: belas pernas! “Bixo”! Exatamente por estes lances de “trote” não fui na primeira semana. Meu cabelo já anda raro, se cortarem então... Mesmo porque nunca passou pela minha cabeça eu careca?! Também porque se inventassem de me zoarem, com pinturas e outras patifarias, seria complicado ter que ir direto pro trabalho. Já imaginou eu chegando feito um palhaço?
Uma grande dificuldade que tive foi a diferença de idade. A média de idade da turma era de 17, 18 anos. Sou o mais velho, o “tio” – e disparado! Dez anos mais velho! E como isto não faz diferença?! Nos primeiros dias me sentia um “ET” tal era a sensação de deslocamento no meio de alunos ainda adolescentes. Tanto, que me calava conversando com poucos amigos. Teve até uma amiga que ao ler meu livro, duvidou: “O Zé do livro não é mesmo que assiste às aulas. Aqui você é muito sério.” De fato, foi difícil a adaptação. Tive até alguns entreveros com uma classe que não pára de falar. Impressionante a falta de paciência desta galera?! Segundo a professora Samanta “Cheirosa”, eles só se preocupam com nota, presença e quando eles vão embora. Verdade. Mas sou é quem tenho que me adaptar a eles. Com o tempo ficou bem mais suportável. Escolher grupos de trabalho não é uma tarefa fácil. E sem conhecer os parceiros então...
Com a faculdade de jornalismo, tenho que me adequar a um estilo “enjaulado”, onde não cabe opinião; usa-se a fórmula de responder as perguntas básicas “onde, quando, quem, por quê, o quê e como” – os chamados LIDEs –, o oposto da forma que escrevo, uma forma despojada e informal ao extremo. Desde então, toda situação ao meu redor, mentalmente monto um lide. Tá virando paranóia! E na hora do texto – catzo –, não sai nada.Achei que seria fácil a transição, mas estava enganado. Uma guerra que mina meu departamento criativo. Pedi até ajuda especializada a uma professora jornalista.
Abaixo a resposta da “tia Margarete”.
Oi, “sobrinho”!

Sobre os sonhos com os lides, é assim mesmo quando você começa o curso de jornalismo. Isso, ao contrário do que você pensa, não é ruim, é bom. Significa que você está atento aos toques dados pelos professores em relação ao texto. Você terá que fazer muitos lides nos próximos quatro anos. Aproveite as horas vagas para escrever da maneira como você gosta, mais livre.
Até mais, Margarete

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