quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

U2 – Eu fui!, eu tinha que ir

A turnê “Vertigo” do U2 soou como algo inatingível para a maioria dos fãs mortais. Caríssimo! Luxuoso! Tecnológico! E isso! Mais aquilo! Como já via presenciado os irlandeses – e duas vezes – em 97, e não havia visto os Rolling Stones, que tocaria dias antes nas areias cariocas de Copacabana, priorizei Mick Jagger e cia, e sequer cogitei comprar entradas, esnobei...
Eis que no Rio, pós-Stones, a lembrança dos hits do U2 catapultaram uma vontade avassaladora de ir. Trocaria de horário na TAM e iria pro Morumbi a espera de um milagre. Ele veio antes do que imaginava... Jonny (sempre ele?!), o amigo milagreiro...

“Zé, consegui ingresso do pai de um amigo. Não vou conseguir ir porque tenho dois empregos. Sei que quer ir, você compra?”, Jonny me animou no domingo à noite. Opa!!!!!! Sem cifras astronômicas eu compro. Lancei 150. “Te ligo amanhã ao meio dia confirmando...”
Confirmado. Era pra eu ir.

O que impressionou foi que ao dizer às pessoas que havia comprado na véspera e por 150 Reais, todos diziam “morra! Queria muito ir, estou com inveja de você” ou, com relação ao show de segunda televisionado na Globo, “foi espetacular, sem palavras!”, os adjetivos eram superlativos e os mais variados possíveis. Ir ao concerto mais querido e caro da história tupiniquim aumentava minha ansiedade.

Só faltava trocar de horário. Uma mini-batalha, mas troquei com três até conseguir sair às 19h. Iria só. Acompanhado de minha sorte, que até então foi muita! Saindo às 19h, horário de rush, precisei mais sorte. Na Bandeirantes, andando a passos de tartaruga, a questão não era sorte, sim trafego urbano, o caos. O azar não era meu; era coletivo, é de São Paulo e insolúvel. 30 minutos e respiro na Avenida Santo Amaro, daí seguir até o estádio do Morumbi, foi tranqüilo.
“Quem tiver algum ingresso sobrando eu compro!”, essa era a esperança de dezenas, diria milhares de fãs da banda de Bono. Havia, mas os preços eram de primeiro mundo: acima de 500 Reais!!! Um absurdo!!! Isso inflacionava tudo, estacionamento de frente ao estádio: 50 contos. O preço que paguei pelo ingresso de pista havia quase 10 anos. Eu já vim esperto e no primeiro estacionamento que achei, parei. No mesmo que parei num show do Rush, havia dois anos. O responsável disse que era 30, rebati “pago 20”. Paguei e caminhei 15 minutos até o Estádio.

Dentro do estádio quis localizar o Batista e o Pedro (amigos), mas não consegui, desencanei e curti o show só. Isso tava escrito. Só por isso bati tantas fotos: quase 200! Divinas. Um passeio pela apresentação dos irlandeses. A natureza me brindou uma noite de fundo negríssima, eu, com máquina, adicionei os dois líderes do U2 ao centro, Bono e The Edge, em preto e branco. Foto artisticamente linda! Vejam!

Poesia, felicidade no ar. O que não conseguia era fotografar – mas tento contar – o sentimento de 73 mil seguidores do U2, cantando e pulando. Dava pra tocar a felicidade tanto que ela saltava aos olhos. Arrepia até lembrar, escrever. Indescritível o que eles despertam. Vai além do musical. É um quê de divino, de porta-vozes de uma mensagem boa. Eu peguei. Raul Seixas passa algo semelhante.

Meu irmão Miguel pediu pra lembrar dele no clássico I still haven´t found what I am looking for. Chorei, sem vergonha alguma, a música inteira em sua homenagem. Todos nós ainda não encontramos o que estamos procurando. Ouvindo a letra, bem executada, com todos em comunhão, temos certeza que a busca – eterna e estimulante – continua. Os sonhos também. Falta mais força, inteligência e fé. E conseguiremos! ... only to be with you...

A controvérsia dos fãs da banda é o lado rock and roll anos 80 com o dançante, desde 90. Prefiro a primeira fase. Mas ainda assim respeito a mudança que muitos radicais chamam de “falta de personalidade musical”. No inicio do show a seqüência foi da era disco. Não me importei, a diversão era ver e fotografar o telão, quer dizer, os telões.

O que era aquilo, algo jamais visto no país! Um central imenso e abaulado, quatro menores nas laterais. Do lado esquerdo, onde estava, The Edge e Adam Clayton, e no outro o vocalista e Larry Mullen. No telão gigante efeitos, desenhos, mensagens, eles!

Em where the streets have no name surgiram bandeiras latino-americanas, com destaques à nossa. Bono leu o nome de alguns países, pra quê?, o simples mencionar de “Argentina” detonou decibéis de vaias. Injustas! Tudo bem que o fato de ter vínculo com uma família argentina ajudam a minha defesa, mas é de uma pobreza cultural tamanha saber que essa manifestação é um influenciada por futebol, pela rivalidade que deveria ser deixada dentro do campo, mas que é transferida para o país vizinho gratuitamente. Galvão Bueno adora aumentar a antipatia com seu ufanismo exagerado incorrigível. E quem pensa que a recíproca é verdadeira se engana: lá eles encaram normalmente, não há ódio, sim simpatia ou indiferença. “Mas Costa é ano de Copa, Morumbi é estádio de futebol, é natural vaiar argentino”, argumentou o Douglas. Concordo em parte, mas penso que países vizinhos são – ou deveriam ser – como irmãos, se xingam, saem na mão, mas sem essa raiva excessiva. Precisamos deles e precisamos crescer.

O discurso da banda é totalmente político, até extrapola. “Coexista” no telão põe lado a lado judeus, católicos e cristãos. Mensagem dos direitos humanos com letras em português, logotipo da luta contra a pobreza mundial. É como se assumisse, pela importância que têm, um papel no mundo. Isso é nobre, não querem só entretenimento, sim formar opinião. Bono Vox? Vai ter carisma assim lá em Belfast?!

Em 97, na ultra dançante mysterious way, Bono chamou uma mina no palco. Outra em with or without you, formou com outra garota um parzinho romântico, deitadinhos. Tudo lindo. Ocorre que no ar já se criou uma expectativa de “quem seria a cinderela escolhida de 2006”. Na segunda, a escolhida roubou um selinho do Gringo. Dia seguinte teve 20 mil scraps no orkut, e fiquei sabendo que estava cobrando R$ 4000 por entrevista. Virou negócio. E mais: ela é noiva. Deixou um chifrudo feliz, pois deve ter dito aos amigos “com o Bono pode”. Terça, o destaque foi uma garota que com uma faixa “let me up”, foi atendida: subiu, e ainda exigiu: “Meu nome é Desirè, toque essa música”. Um trocadilho, pois ela queria a canção Desire, que não estava no set list. Bono pediu ao guitarrista que disparou os acordes.

O set list deles me agradou cheio, pois se eles tocaram metade das puntz puntz que não conheço, também rechearam o repertorio de clássicos: o hino Sunday bloody sunday com bateria inconfundível, desse cd também New years day. O orgulho em nome do amor com pride in the name of love, One com todas as formas idiomáticas de se escrever “um” e uma pomba no telão.

Lembro da época em que lia o nome da banda “U-dois”, desconhecendo o idioma ianque, também da fita k7 que minha prima comprou pra minha irmã, chamava-se boy, sucesso deles. Principalmente cresci numa geração que profetizava “quando U2 vier eu vou”. Sinto-me realizado, de quatro shows da – talvez – banda mais marcante de 80 para cá, presenciei três, cumpri a promessa até com certo egoísmo. Um privilégio. Um presente de DEUS, sobretudo força pra encontrar o que estou procurando. De fato, eu tinha que ir.

PS: aos que não foram eu mando fotos e texto. Aqui vou ser xingado!

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