quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

Golpe ao jornalismo

Nome: José Antonio Costa, 25
Disciplina: Crítica da Mídia II
Professor: Paulo Ramos7º
Semestre – Alternativo
2004

A tentativa frustrada de Golpe de Estado na Venezuela, depondo o Presidente Hugo Chávez, em 11 de abril último, foi uma piada que durou cerca de 48 de horas. Primeiro a informação que ele tinha renunciado, quando na verdade fora seqüestrado por golpistas. Graças a um oficial que pediu que o líder escrevesse de próprio punho que tudo não passava de armação, toda a população venezuelana tomou conhecimento da trama e exigiu a volta do comandante.

Pode se dizer que uma análise atenta a vários veículos vai resultar em risos – ou lágrimas? –, já que onde está a utópica imparcialidade da mídia? O trabalho a seguir pede para que se esqueçam os analistas de plantão, sim as capas, linhas finas, fotos etc. Eu ri e chorei por dentro. A obra é “o jornalismo canalha”, de José Arbex Jr., editor especial da revista Caros Amigos, editor-chefe do jornal Brasil de Fato e editor-geral do boletim Mundo – Geografia e Política Internacional. É doutor em História Social pela Universidade de São Paulo (USP) e professor de jornalismo na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).

O título já ataca a profissão de Gutemberg, e é só um aperitivo. Arbex é verborrágico. Não poupa George W Bush (a qual ele ironiza como sendo “Bush Júnior”), por tabela o império e por tabela a grande mídia. Nenhuma novidade se tratando de um autor assumidamente de esquerda. Mas esqueçamos os preconceitos, aliás, o próprio esquerdista malha os preconceitos. Principalmente quanto a MST, palestinos e árabes.

Voltando a Venezuela, um jornalista venezuelano, Adrián José Padilla Fernandes, afirma que o Golpe só aconteceu porque Chávez subestimou seus opositores e eles também o subestimaram. Ainda segundo Adrián, os empresários de direita não suportavam o discurso revolucionário do presidente, que por sua vez, comprou uma briga que fugiu do seu controle. Portanto, a elite, patrocinada pelos americanos, contando com o apoio bélico do exército, e cansados de uma crise econômica arquitetaram tudo.

Mas, entretanto, Adrián Fernández diz que os responsáveis pela retirada de Chaves da presidência, também não imaginavam que ele ainda tinha tanta força junto ao povo, principalmente nas camadas sociais mais pobres que lhe davam sustentação e nem contavam com o apoio de parte dos militares que se mantiveram fiéis a ele mesmo depois de ter sido deposto. " Os opositores de Chaves não achavam que ele ia ser apoiado da maneira que foi e se surpreenderam", observa.

À frente dos golpistas, Pedro Carmona, o presidente da Fedecamaras (espécie de Fiesp venezuelana), que assumiu o poder contando com o apoio dos grandes grupos de comunicação, de onde destaca-se Gustavo Cisneros, considerado o terceiro homem mais rico da América Latina. Carmona foi um fantoche: assumiu, destituiu governadores e prefeitos, dissolveu a Assembléia Nacional e convocou eleições. Só fez presepadas e, com a volta do Chávez, fugiu do palácio por túneis secretos após suspeitas de que o local seria bombardeado por chavistas.Depois desse episódio, o país recebeu grande atenção dos meios de comunicação. Especialmente no Brasil. Arbex raziona que tanta importância ao “Golpe de mentira” só se justifica por uma simples razão. É como se as publicações trouxesse embutida uma pergunta problema: aconteceu na Venezuela, com um presidente de esquerda, agora vocês (leitores) vão querer outro presidente vermelhinho? Vão ter problemas proporcionais ao tamanho do Brasil...

Pois é, parece que os ecos do Império Yanque chegaram na nata da comunicação brasileira. E de que forma? Não é novidade que, devido a economias, ninguém manda equipes de reportagem ao exterior. Importamos notícias das agências internacionais. Só que alguém deveria alertar o público que, embora não escrita, há um rótulo de “notícias parciais”.

Há trechos do livro que mostram versões contraditórias do comportamento da mídia: há uma versão aparentemente apurada e bem fundamentada, a do autor; e outra diferente e claramente tendenciosa. Falo do que CNN e Veja escancararam na cobertura ao episódio venezuelano. Não só do golpe, mas como em geral é tratado o mandatário sul-americano. Boatos da Casa Branca apontam para uma conspiração do mal formado por Fidel, Chávez e, por ser de esquerda também, Luis Inácio “Lula”da Silva que, se empossado, daria peso ao trio. Dejavu: seria uma nova Guerra Fria?

A americana Rede CNN em espanhol beirou o ridículo ao querer induzir os telespectadores que se tratavam de tímidas manifestações pró-Chávez, quando na verdade, eram esfuziantes comemorações, pois o próprio e adorado presidente voltava, triunfante. Impossível desvincular esse fato – lembrado no livro – ao momento em que a Rede Globo noticiou que a ruidosa passeata pelas Diretas já! tratava-se, apenas, pasmém, de festejos do aniversário de São Paulo. Será que nessa hora os Mídias pensam que somos idiotas?

A revista Veja, ora veja!, atacou de frente, coisa pessoal mesmo. Na edição seguinte ao “Golpe Piada”, a capa parece vinda do inferno de tão vermelha. Não bastava a boina e roupa vermelha de Chaves, o fundo também seguiu esse tom. A cara era de um turrão vencido. Diria que só faltou os chifres do demo... A chamada era “quem precisa de um novo Fidel?” Na versão online, a afirmação é “Chávez: um risco para toda a América Latina”. Deve ter sido um americano que bolou isso, não?! Porque o maior interessado em ver o “novo Fidel” bem longe de Caracas é a turma do Bush, que tem sede de petróleo. E nesse país, é amplamente sabido, jorra petróleo. Além de fincar bandeira nessa região amazônica a fim de estabelecer poderio geopolítico. A base de Alcântara do Maranhão eles já estão de olho faz tempo e fazem testes com regalias.

Está claro as vantagens que os americanos levam, mas e a Veja – e o Brasil? A época era de eleição, o mercado estava extremamente nervoso, Regina Duarte havia proclamado Lula como “o candidato do medo” e Serra, “a esperança”. Ele, representando a elite. Aí está o ponto: a elite – declaradamente – queria o continuísmo de FHC, queria Serra! Não importava que Lula estava bem mais light, eles temiam que o petista roubassem a poupança deles e outras baboseiras do gênero. E como porta-voz da elite, quem? Veja. Por tanto, overdoses de Venezuela, como já citado acima, para o brasileiro ficar com medo e votar na direita, no Serra.

É sórdida essa associação meios de comunicação & governo. Interesses mandam. No topo, os Estados Unidos da América que, através de CNNs e agências internacionais da vida, dita o que a eles interessa. Na periferia, brasileiros e latino-americanos obedecem aos primos ricos, via imprensa. Essa, também domesticada, é simpática a burguesia. Assim gira o círculo vicioso.Só acordamos quando livros como esse – minoria – nos empurra em busca de outras versões, de aprimorar o senso crítico. E odiar boa parte da mídia. Pena que somente um pequeno grupo tem acesso a esse conteúdo. A fatia maior, desinformada, prefere o de fácil acesso e bem embalado.
Bibliografia:http://www.revelacaoonline.uniube.br/a2002/geral/venezuela.htmlhttp://veja.abril.com.br/040505/p_152.htmlArbex Júnior, José. O Jornalismo canalha: a promíscua relação entre a mídia e o poder. São Paulo: Editora Casa Amarela, 2003.

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