quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

Confraternização entre brasileiro e argentinos

Maio de 2005. Fim de jogo... Todos exaustos. Percebi um clima geral de “não quero churrasco, quero hotel, depois balada”. O catzo, já tá marcado desde o mês passado, não fazer será desfeita com meu irmão argentino, nem que seja para ficar um hora temos que ir. Até aconselhei Figueira, com dor de cabeça, pra fechar um trio para rachar um táxi, mas ninguém fez isso. Foi só atravessar a rua e estávamos no shopping Unicenter para as compras. Carne, bebidas, limão verde (não amarelo) etc. Uma “Velho Barreira” custa astronômicos P$ 24 aqui. Trouxeram outra pinga, por supuesto.

Calle Jose Ingenieros, 1636, barrio de La Lucilla, aqui se deu a integração Brasil e Argentina. Não houve bairrismo, preconceitos etc, só celebração, amizade. Os irmãos Osés se encarregaram da carne. Usavam os jornais para esquentar a carne, porém, demorou. O Gordela até insinuou que eles estivessem lendo o jornal frente-e-verso... capaz? O Dirceu já pegou os limões e foi pras caiporas. O primeiro jarro ficou mais que gostoso – ficou nobre! Perguntei para Lucrecia (irmã do Esteban) se ela curtiu: “Muito! Se tomar a terceira dose acho que vou me transformar?!” Então dá-lhe caipirinha na maninha! Acaso ela ficasse de fuego procuraríamos um matafuego (instintor de incêndio, acredite, em espanhol)... Os convidados iam chegando. Os do jogo: Juan River, Ezequiel, mais outros dois irmãos, dois casais, a namorada do Estebán e a Milagros. A mina do Estê disse que fez curso de português e entendia um “pouquinho” e apontou para Milagros, noiva do Adrian (melhor amigo do Estê e que está em Miami e isso não importa muito ou nada). Essa muchacha morou seis anos no Brasil, fala um português fluentíssimo. De inicio a achei fresca, sem querer falar nada com ninguém, tipo “não estou aqui”. Enganei-me, felizmente. E não dá para negar: não fosse o fato de ela ser comprometida ia ser alvejada fácil. O Cróbis comentou: “Cada dose de qualquer coisa, o nariz da ‘Gepeta’ diminuía três centímetros e ela se torna mais linda!!!” E trouxe um cedê de música tupiniquim. Do nada um “você é luz, é raio estrela e luar, manhã de sol, meu iá iá meu iô iô, você é assim e nunca meu não, quando estou louca me beija na boca e me ama no chão”, Wando aqui em Buenos Aires?! Eu, Cróvis e Figo dançamos esse clássico brega, abraçados – enlouquecidos – e com copos na mão. Mereceu. E nisso todos – sem exceção – já tinham entrado no clima de descontração e saudável bebedeira ao topo. Em pensar que horas antes havia um nítido clima de “ir, quase, por obrigação”... Até a cachorra (uma dobermann “preta-Graffite”) da casa que deve ter – praticamente – tomado uma caipirinha, muito da escondida, claro. Mas coitada, era sempre expulsa do recinto pelos donos. Coube a Milagros – e sempre ela, nossa musa – pegar a cadelinha e fazer uns afagos ante uns invejosos paulistas. O ápice da conquista foi a bela rúbia fazer caipirinha. Não, definitivamente não!, argentina fazendo caipirinha brasileira em Buenos Aires mereceu um sonoro e emocionado “puta que pariu a Milagros é a Rainha do Brasil”, ela desacreditou. Nem só ela brilhou, estaria sendo injusto, orra meu: e nosso samba exportação? Não trouxemos os instrumentos, mas Valéria, de comissão de frente, piercing e tudo não afinou aos pedidos de “samba Valéria, SAMBA” ao som de “sou Gaviões levanta a taça, com muito orgulho pra delírio da Fiel”, requebrou bonito e arrancou baba de muitos amantes de tango. Mal sabem eles que ela dormiu com camisola de ursos... O único que se deu bem no quesito “pegação” foi o Tiago: pegou a Lu, muito provavelmente “transformada” pela afrodisíaca bebida brasileira. O irmão brincou, dia seguinte, que o Bambi – são-paulino – estava com sono. “Ele tava dormindo no ombro da Lucrecia”, riu Estebán. Ainda não havia visto seu Carlos e dona Lílian, pais do Estebán – extremamente simpáticos!, quando eles chegaram tarde da madrugada eu estava – demasiado alegre – o Estê me levou até eles pra cumprimentá-los. Só lembro que dizia que estava muito feliz e que essa era minha família argentina. Nos abraçamos e nos despedimos. Dona Lili foi ainda dar um holá para os outros e seu Carlos foi dormir. Essa cena me deixou bastante contente. Vir aqui e não cumprimentá-los ficaria algo incompleto. Fomos embora por volta das duas da madrugada. Mais meia dúzia de limões, meia hora e meio grau centígrado mais quente, neguinho e branquinho ia dar um tibum na piscina da família Osés, ah ía – petrificados, mas felizes! Eu não queria ir embora. O que quero hoje, de fato, é voltar, ao mesmo lugar, com as mesmas pessoas – só pediria, se não fosse muito, mais chicas, claro – e mais cervejas e limões pra caipirinha. Se todos pensaram como eu, certamente 2006 haverá outro salo. O convite já está posto. Quem tá feito de convites é o Estebán, pode escolher entre pelo menos quatro casas quando vier para São Paulo.

Os brasileiros que foram com a gente admitiram o preconceito sobre os argentinos. A grande maioria pensa que eles são folgados e outros estereótipos. A grande verdade é que o brasileiro é bem mais preconceituoso que o argentino, eles não estão nem aí. Ao serem bem tratados viram que não passam de mitos essas bobagens. Como dizer algo sobre a hermana Lucrecia, uma das pessoas mais humildes que já conheci? A boa vontade do Estebán que se prontificou a ir do seu bairro até o centro (1 hora de ônibus), sem carro, frio e de noite, duas vezes. Isso porque não conheceram seu Carlos e dona Lílian. Ri da ingenuidade deles ao julgar assim sem conhecer de perto. E por quê? Futebol... Mas lição é lição, e é pra se aprendida, como declarou a Val: “Fiquei com vergonha de mim mesma porque fomos muito bem recebidos.”

E como se comunicava esse povo todo? Maffei, o único são entre mais de duas dezenas de almas borrachas, por conta disso se empolgou e emplacou pérolas que dariam um rio de ostras. Lamentou um qualquer coisa com um “que AÇAR”?? Azar foi o nosso de ter ouvido essa... No calor dos papos de futebol confidenciou: “Robinho siempre ‘fôdiôu’ o Corinthians?!” De onde nasceu o coro “fuera Mafuei, fuera Mafuei!” Ficou. E ganhou a noite quando o Ezequiel, de uma gentileza mentirosa, elogiou o Poliglota do Morumbi. “Seu espanhol é muito bom!” Pronto, ele lavou a alma, encheu o peito e se virando a todos, comemorava esfuziante: “Tá vendo! Tá vendo! Ficam falando de mim, ó!” A Val também passou das medidas: “é mucho menos menor”. Dirceu confundiu os latinos e nos chamou de “brasiliano”.

Da outra vez sabe que não vi nada demais na porteña. Dessa, toda vez que o Cróbis via uma chica preciosa, ele não se conformava e soltava um “vai tomar no meu c.!” Ele tinha razão e meu conceito sobre a argentina variou da água pro vinho. E começou cedinho, assim que passamos pela imigração já apareceu uma rúbia tremenda; do lado de fora do aeroporto, embarcou num ônibus antes do nosso, uma exótica charmosíssima. Desfile delas também no bairro da Recoleta e no shopping center. Uma o Cróbis só não pediu fotos porque demorei a achar a máquina. No churrasco a Milagros deu dicas sobre como paquerar por aqui. “Se quiser elogiá-las, chamem-nas de flacas (magras).” Reconheceu que elas, comparadas com as brasileiras, são bem frescas. Um detalhe pra evitar mancadas: “pt” – perda total –, que usamos pra dizer que alguém está sem condições – o Giuliano, por exemplo – aqui é o correspondente ao blow job. O Carlie deu outro toque: “Não espere que ela venha até você. Aqui raramente acontece isso. Você é que tem que dar a cantada.” No Brasil a caça feminina é comum e chega a ser descarada.

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